31/03/2008

Arrifana - Lisboa - Sintra

Aqui, sou forte como um touro!
E a minha força tem espaço para ser bela, genesíaca, quase divina.
Como tenho orgulho nela.
Uso-a para caminhar, para me alimentar, para construir, para criar e para amar.
Uso-a também para proteger o que amo.
Aqui sou forte como um touro e sou belo!
Lá em baixo, não, é diferente.
O orgulho esvai-se, a luz enfraquece e a beleza perece.
Não há espaço para a força. Para a sua verdadeira natureza.
Ela esconde-se, sufoca no meu próprio corpo e em desespero agride-me. Brutalmente!
Longe de tudo o que lhe é familiar torna-se violenta, torna-se bélica.
É díficil continuar a gostar dela assim.
É dificil continuar a acreditar que ela faz parte de mim...

30/03/2008

Arrifana - Lisboa - Sintra

Sentado, longe de tudo o que me afasta de mim, procuro sentir-me, libertar-me, respirar!
Levei tanta porrada lá em baixo na cidade, ao regressar.
Mas não foi de ninguém em particular. Todos se portaram muito bem, aparentemente. Incluindo eu. Bem de mais...
A porrada foi ideológica. Que carga de pancada!
(...)
Como aceito eu tal quotidiano? Para sustentar o quê? O quê?!
Muito pouco, quase nada.
Mas tem melhorado...
Pouco. Não, o bastante.
(...)
Afastados daquilo que lhes é essencial procuram segurança e a dependência do amor desesperado, do amor seco.
Tudo o que seja belo e luminoso gostam de o ver ao longe e desta forma se alimentam. Com distância, sem verdadeiro envolvimento. Como exemplares consumistas. Para não dizer canibais ou uéticos.
Mas, mal, diga-se! Mantêm-se sedentos, carentes, perversos e violentos. Pois é assim que nos querem. É assim que se "sobrevive" cá em baixo.
Se o belo e luminoso aparece corporizado, pessoalizado, não transcendental tratam logo de castrá-lo. A sangue frio!
-Que pecado esse de ousar ser feliz.
Matem-no, esfolem-no!
Ele encandeia-nos...

Negros poetas.

Tu disseste "quero saborear o infinito"
Eu disse "a frescura das maçãs matinais revela-nos segredos insondáveis"
Tu disseste "sentir a aragem que balança os dependurados"
Eu disse "é o medo o que nos vem acariciar"
Tu disseste "eu também já tive medo. muito medo. recusava-me a abrir a janela, a transpôr o limiar da porta"
Eu disse "acabamos a gostar do medo, do arrepio que nos suspende a fala"
Tu disseste "um dia fiquei sem nada. um mundo inteiro por descobrir"
Eu disse "..."
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"
Tu disseste "agora procuro o desígnio da vida. às vezes penso encontrá-lo num bater de asas, num murmúrio trazido pelo vento, no piscar de um néon. escrevo páginas e páginas a tentar formalizá-lo. depois queimo tudo e prossigo a minha busca"
Eu disse "eu não faço nada. fico horas a olhar para uma mancha na parede"
Tu disseste "e nunca sentiste a mancha a alastrar, as suas formas num palpitar quase imperceptível?"
Eu disse "não. a mancha continua no mesmo sítio, eu continuo a olhar para ela e não se passa nada"
Tu disseste "e no entanto a mancha alastra e toma conta de ti. liberta-te do corpo. tu é que não vês"
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"
E eu disse "o que é que isso interessa?"
E tu disseste "...nada"



Mão Morta - Tu disseste

27/03/2008

MnhamMnhamm

Fora de tudo, fora do que me rodeia, fora de mim. Pairo pela música que me aquece, vou voando por entre acordes, saltando suavemente de batida em batida, de som em som. Uma voz vai melando o meu percurso, e eu imito-a dentro de mim, cantando com ela ao ritmo da música. A cabeça vai acenando ao compasso, a harmonia inebria, e voa-se com prazer por aqui. Saborosa audição que me oferece a maravilha de apagar o mundo e acender o sonho. Um mágico sonho que é meu e teu, vosso e nosso, e deles também.

26/03/2008

Ceia animada, levante o espirito tenso e preocupado.As tensoes mortais e mais fisicas assombram a alma inquieta ja de si...por outro lado fazem com que tudo pareca menos imporrante.De repente somos menos exigentens.Queremos um tecto, um ganha pao e ja esta.
Bonito nao e?
eu acho.
Tudo se dissipa, o importante vem ao de cima.Vens tu, a minha mae, a minha irma, a joana, a carolina, o pedro, o tomas...
Fico contente, acompanham/me em todas as viagens de autocarro.Povoam todo o meu pensamente, deixando/me por vezes com um sorriso estampado.É extremamente agradavel....sei que e tudo o que temos nesta vida!
Voces!
Nao me perguntem porque para me encontrar tenho que ir para longe de voces.
Tenho...voces sabem/no tanto quanto eu.Sentem tambem?
EU sei que sim!
A voces meus amigos, um brinde!
Pai, mae, laura, amigos, amigas, metades....!

24/03/2008

Aqui numa caixa diferente , a vida vive-se da mesma forma , o passado existe melancolico e o futuro pulsa intermitente.
A expectativa alimenta o passo-a-passo galopante para novos trilhos.Esses cruzam-se com outros já familiares transformando-se um simples trajecto num emaranhado de teias cheio de pequenas aranhas, umas graciosas outras nem tanto, dancando ao ritmo da brisa.
O coracao carregado enche este quarto minusculo, onde se tentam encontrar varias cabecas.
E pudesse eu pagar de outra forma!
A insanidade confunde-me -tanto quanto sei até pode estar correcta- dizendo-me que um dia ambos saldaremos as nossas dividas. Ate la intrigo-me com elas, elas me incomodam-me , deixam-me nervosa.A paciencia é uma virtude mas na verdade enquanto precisarmos dela nunca vamos conseguir senti-la.Nao estara certo?

Fui eu quem virou as páginas
Na pressa de chegar até nós
Sem tirar das palavras seu cruel sentido
Sobre a razão estar cega
Resta-me apenas mais uma razão

19/03/2008

Um almoço em Tavira

Nunca me esquecerei daquela família.
Estava sentado a almoçar numa esplanada da ilha de Tavira e observava em regozijo o quadro que se apresentava defronte de mim mesmo.
Um casal francês com dois filhos, um rapaz e uma rapariga. E que belo quadro era aquele! Que harmonia pairava sobre aquela família.
A mulher era morena, cabelo curto de boa proporção, e olhos verdes. Sentava-se apoiada numa suave e forte base de ancas. Belas ancas, generosas, que se prolongavam numa saudável postura de costas, e ombros ligeiramente descaídos para trás, com elegância. Por fim, uma cabeça bem levantada, que um qualquer ignorante confundiria com vaidade, acompanhada por um olhar, acima de tudo, sereno. Uma verdadeira força da natureza! Mas, ali, em repouso. Não precisava de muito para cumprir generosamente o seu papel maternal e conjugal. Bastava a sua presença. Bela!
O pai das crianças era um homem com muito bom aspecto. Com traços viris e ternos, ao mesmo tempo. Um bom equílibrio dos opostos é sempre digno de admiração. Estava sempre a meter-se com os filhos. Intercalava esta sua arte com o contraste de momentos sérios e de aparente indiferença, e brincadeiras enérgicas e expressões cómicas que deliciavam os filhos.
Os putos eram os dois lindos. Não apenas por serem bonitos mas por exibirem uma liberdade e uma graciosidade selvagens, naturais. Os seus gestos eram soltos e amplos, ainda não tinham sobre eles o peso de intenções externas. Movimentavam-se segundo a sua natureza, com uma simplicidade, em si, completa, quase celestial. Teologicamente falando estas crianças ainda não tinham sido "expulsas do paraíso" mas duvido que ainda não tivessem provado nenhuma maçã... O que questiona muita coisa!
Havia ali tanto que me atraía e sobre o qual eu podia começar aqui a discorrer. Mas havia uma questão que, particularmente, me toca neste momento. Desde novo que quero ser pai. E senti ali, e penso, que ser pai, ter um filho, numa perspectiva invejosamente saudável, passa muito por um ressuscitar paternal. O pai quer dar a ver, quer oferecer a vida ao filho, quer-lhe mostrar o mundo, as coisas no seu estado mais puro e, aí, é como se as revivesse em consciência, bebendo e aprendendo novamente através dos olhos do filho a visão primeira e límpida de todas as coisas.
E esta sim é a partilha, a educação principal que deve haver entre pai e filho, entre mãe e filho. A outra? É secundária.
Nunca me esquecerei desta família...

17/03/2008

Lê isto fêmea, menina feita mulher.

Disse fêmea
Mulher feita
Disse fêmea
Disse cresce
Disse muda
Perde a estúpida inocência
Dia após dia
Para aonde ia
Disse fêmea
Mulher feita

Mal eu sabia
Que a vida rouba os sonhos
Mal eu sabia
Que o mundo nos desmama
De paixões surdas,
Cava na cara
Sulcos secos,
Sulcos secos

Disse fêmea
Mulher feita
Faz-te fêmea
Ama-te a ti mesma
O mundo espera
Cheio de tudo
Come-o, feliz, sã, gloriosa, cheia
Diz-te fêmea
Mulher feita

Eu não sabia
Que nascemos sombras
Eu não sabia
Que todos têm medo
De falhar, de perder
Não há braços de fêmea
Para embalar
O mundo

Disse fêmea
Mulher feita
Acabou-se o que era doce
Acabaram-se os amantes
O preço da mão estendida é
A pagar, a pagar,
Mais cedo ou mais tarde
Não repitas os meus erros
Menina feita mulher

Disse fêmea
Mulher feita
Disse fêmea
Disse cresce
Disse muda, muda, muda
Perde essa estúpida inocência
Dia após dia,
Após dia,
Para aonde ia
Disse fêmea
Menina feita mulher
Menina feita mulher
Menina feita mulher.

Ainda, Jorge Palma.

Morte ou metamorfose?

A paisagem que encontro dentro de mim é de um silêncio sinistro.
Há uma tensão estática em tudo o que vejo,
uma expressão de expectativa em tudo o que me observa.
Só o vento passa e continua
deixando à sua passagem a ideia de que o tempo não pára ou mesmo não existe.
Mas eu não agarro a ideia e a brisa do vento não me seduz.
Algo está para acontecer, algo tem que acontecer.
A terra mexe-se por baixo de mim. Goza com o meu equilíbrio.
E o mar revolta-se com uma imponência nunca antes por mim vista.
Desta vez não posso fingir que aqui não estou, que não faço parte disto tudo, que não preciso de mim!
E também não aguentaria mais uma catástrofe.
Os campos destruídos,
a natureza violentada,
os caminhos apagados,
as vozes caladas.
Não, não quero morrer outra vez.
Não, não quero ressuscitar outra vez.
-Ok, ok, eu oiço-vos!!! Estou aqui, aqui mesmo!
O mundo recua, em imponentes e nobres gestos, com a sua revolta, e oferece-me um pouco de sol.
O meu peito pulsa, e com ele, os meus olhos.
-Porra, como tudo é belo!

Agora, tenho a certeza que não sei

-Está uma noite linda!
-Pois está. Fabulosa!
(...)
-Sabes uma coisa?
-O quê?
-Acho que afinal não sei o caminho.
-O quê Pedro?!
Trazes-me até aqui e não sabes o caminho?
-Não, não sei. Aliás, agora, tenho a certeza que não sei!
Mas, o lugar, esse sim. Esse sinto que existe.
Continua a ser o mesmo.
-Lá vou ter que acreditar em ti outra vez...
-É o que me vale.
Ouve, aquela estrada, ali, iluminada. Onde é que vai dar? Sabes?
-Claro que sei, Pedro. Sempre fui melhor que tu em orientação.
Vai dar ao Vale dos Capuchos.
-E depois, por onde continua?
Isso já não sabes pois não?
-Não...
-Óptimo! Então dá-me a tua mão.

15/03/2008

Escuta bem nada passa num dia
Fala fim mas com determinação
"Estar só torna tudo mais fácil"
Não é mais que ouvir teu coração

Eu sei como é bom estar só
Se és mais
Eu não sou
Porque amanhã já cá não estou
Eu vim dar mais que um beijo igual a mil
Saltei ao vazio que afinal é bem mais
E vim cair num mundo igual
Só aparentao erro foi deixar
A ironia da camera lentaNão nos dar tempo para pensar
Eu sei como é bom estar só

É fácil amarE ser amadoÉ só ter jeito para falar o que é melhor de ouvirMas o calor que é tudo o que é bomSó acontece quando nada é claro
eu sou o céptico a falarMas se falar de amor
Eu julgo ter razão
Ser da terra dependenteÉ o dilema da sementeContrariarNão é coerente.
'
se és mais,
eu nao sou.

10/03/2008

Já avisei que ainda lá está? E aqui também está

Dia 59

Aos saltos pela praça, encaminha-se para o belo moinho de alfodres com uma alegria imensa. O moinho é lindo e rodeado pelo verde da natureza e pela harmonia dos animais, e a sua amada encontrar-se-á com ele lá, para se unir a ele e ao seu amor. Não olha para lado nenhum, parece que voa tranquilamente até ao seu destino, quase como que guiado pela sua pura felicidade. O calor do sol acompanha-o tal como os frescos sopros do vento. Chega ao seu destino e, notando que a sua amada ainda não apareceu, decide ir dar um mergulho no “lago azul”, nome dado por ele a um lago escondido entre as antigas árvores do bosque, relativamente perto do moinho. Quando avista o lago, por entre as árvores, a escassos cinquenta metros de distância, começa a correr extasiado na sua direcção e, ao chegar, deixa-se cair sobre a sua fresca água descontraidamente. A água do lago está a uma temperatura extremamente agradável e ele aproveita para nadar de costas enquanto sente a sua cristalina textura. Olha para cima e, rodeado pelo verde das folhas e das árvores, vislumbra o radioso sol que se esconde por entre os ramos dessa árvores gigantes – tão belo este sítio, tão mágico – desabafa a si mesmo. A boiar de costas, totalmente relaxado, apercebe-se da existência de uma presença junto a si, sente alguém a aproximar-se lentamente, pressente que não está sozinho. Sorridente, imaginando o susto que irá causa à sua amada, vira a cabeça de repente e grita - Ahhh!! – e SLASHHH!! O corpulento crocodilo arranca-lhe metade da cabeça com uma só dentada, deixando-o morto, só com um olho.

7/5/2007 – Segunda – 20:16 – Em Casa



Ps: Há falta de novos textos há que ir buscá-los ao baú..

03/03/2008

A noção de permanência

A identidade
Permite que o indivíduo se perceba como sujeito único, tomando consciência de si mesmo.Compreende várias noções que não mudam com o tempo, como a impressão digital.É a diferenciação entre o eu e o outro.É uma metamorfose constante no campo social onde somos o papel que desempenhamos, o de filho, de amigo, de aluno...
No fundo é uma memória ,individual e colectiva.
Não sei até que ponto teremos algum controlo sobre a sua forma.Aquela que temos para o outro é uma suposição, porque não é propriamente algo de que se fale porque mais uma vez não controlamos a nossa memoria no outro nem a desse em nós.Dificilmente a conseguimos definir , é mais um aglomerado de ideias por vezes contraditórias.Não estou a fazer grande sentido...Nem para mim.Deambulo à volta desta temática sem perceber porquê.Nada concreto me surge a não ser aquelas associações típicas de "estou a tomar consciencia" ou "estou a transitar para...ou de...".Irrita-me essa fastfood-to-go-pop psicologia que entra no senso comum.É estúpido contentarmo-nos com a primeira explicação quando na verdade a fase de nevoeiro é determinante , é absurdo assumir que temos explicação para tudo e que não devemos ficar (fugir disso mesmo, como se fosse proibído) num estado incerto por algum tempo.
Flutuar no vazio.
Flutuar no algomerado de coisas, ruído e informação sem agir.
O tempo é sábio, e as pessoas apressadas.
Precipitamo-nos para situações subestimando o seu peso na nossa identidade.É estúpido e naif.Não há forma de crescer assim.
É o maldito conforto do seguro, o medo à mudança e crescente indiferença.

"Não há nada mais duro do que a suavidade da indiferença "
Juan Montalvo