14/07/2011

Assim

Contigo não tiro coelhos da cartola, nem me sinto na responsabilidade de iluminar uma sala imersa no silêncio e na escuridão. Perco a avidez do brilhantismo do humor e da exibição de outras tantas graças.
Não sinto em ti nem a necessidade, nem a exigência de um conselho meu que te salve a vida. E não me excitas de uma forma belicosa ou fatalista.
Quando vou ter contigo saio com mais medo do que quando saio disponível e desejoso de porrrada. No entanto, apesar de tremer estou manso. Vou ao encontro de um tipo especial de descanso.
É que ser de menos ou ser de mais cansa. Cansa muito.
Tu já disseste que gostavas de mim. Mas por vezes pergunto-me se me conheces. Poucas foram as vezes que me viste sob os focos de outras luzes que não fossem a do teu candeeiro de quarto.
Mas tu dizes que gostas. Será de mim? Será que eu gosto do meu eu de quem tu dizes gostar? Sim, acho que sim. Gosto da maneira como tu gostas de mim.


-És muito natural, tu. Natural, assim como a vida, não sei.
-Eh pa, isso para mim é um grande elogio!
-Ah... Tem coisas boas e tem coisas más.
-Naturalmente.

(...)

O melhor artigo de opinião dos últimos tempos

Miguel Esteves Cardoso



Público

Sexta-feira 8 de Julho de 2011

Dependentes

"Estamos dependentes da União Europeia. Estamos dependentes da agência Moody's. Estamos dependentes do Banco Central Europeu. Estamos dependentes da Alemanha. E do FMI. Estamos até, com a lógica de um silogismo aristotélico, dependentes da Grécia.
Afonso Henriques foi o primeiro protoportuguês a perceber que não era bom Portugal ser dependente - por muito boas que fossem as potências de que dependíamos.
Custa ser-se independente e é doce e morno ser-se dependente. Fazemos de conta que estamos entre amigos. Só que, como a Moody's espertamente averigua, não somos suficientemente ricos para pagarmos aos mais ricos que nos emprestaram - e emprestarão - dinheiro.
A questão tem de ser posta ao contrário: se Portugal não pagar o que deve, sofrerão os bancos e países que apostaram que seriamos capazes de pagar o juro guloso que nos cobraram? Sofrerão pouco. É esse o rating que nos interessa e que ninguém se dá ao trabalho (porque não dá lucro) de calcular: quanto empobrecerão os bancos e países que nos emprestaram dinheiro se nós reconhecermos que não temos dinheiro para pagar?
É pouco. O euro é uma moeda ditada pelos ricos para extrair dinheiro aos pobres. Cria uma independência insolúvel: a dos criados que pedem dinheiro emprestado aos patrões, sabendo ambas as partes que nunca se conseguirá pagar. O nosso poder, mais do que não pagar, é não pedir e não precisar de depender. Nós somos Portugal e, sem independência, não somos (quase) nada. É fácil."

06/07/2011

Prince - Gett Off.