20/06/2010

Sendo

Sou movimento assumido
Flexibilidade decidida
Sigo em fente sem direcção
e não ignoro aquilo que contorno.
Amo tudo,
a infância, a juventude e a velhice,
homens e mulheres
amigos e inimigos,
facilidades e dificuldades
e não me quero coerente ou original.
Oiço-me a todo o momento
com clareza e atenção
e escuto com prazer cada som que em mim ecoa.
Não me preocupo com quem sou porque não resisto a ser
e porque sei que não sou sozinho.
Sou avesso a poder e responsabilidades
porque sinto-as justa e harmoniosamente partilhadas.
Sou anacrónico, vivo eternamente o presente,
recusando o individualismo, doença do nosso tempo,
definição pessoal construída a partir da comparação e confrontação com o outro,
ressentimento contínuo, angústia de não ser amado.
Em mim se reflecte o divino, se reflecte o esplendor telúrico,
em mim se reflecte o amor dos homens e a sua cultura.
Não sou bom nem mau,
nem anti-clerical, nem anti-político,
nem anti-cultural, nem anti-natural.
Em mim o individualismo é ser universal.
Em mim tudo tem cura, tudo tem reforma,
tudo encontra a sua mudança e tudo cumpre a sua metamorfose.
Tudo vai sendo.
É, eu sou, sendo, tudo.