30/06/2007

Ensurdecedor

Há na minha vida uma ausência e um silêncio que eu hesito em caracterizar.
Morro de medo...
E eles estão sempre presentes.
Criando uma atmosfera de constante incógnita, de constante dúvida.
Criando um abismo em cada montanha.

Cada caminhada essencial tem sempre o mesmo desfecho:
Chego a rir-me, oferecendo-me.
Estou cansado e ainda entusiasmado.
Estou expectante...
E pergunto bem alto, com uma voz terna e confiante:
"Então, como é que estive?
Estive bem?..."
A pergunta mal tem tempo de gozar o exterior.
Seguir o seu caminho.
É sugada, de imediato, pelo meu interior
e ecoa em todo o meu eu...
Ecoa, ecoa e ecoa.
Percorre-me por completo.
Velozmente!
Mas nada encontra...
Não tem resposta.
Então, vira-se contra mim!
Com uma agressividade brutal, inesperada.
Uma agressividade incompreensível.
Ressoa cruelmente em tons dolorosamente agudos.
Numa melodia louca e enlouquecedora,
numa melodia sem lógica, sem justificação.
Atordoa-me física e psicológicamente
e fere tudo, tudo o que me é interno, tudo o que me é essencial,
tudo o que me é querido.
Já de joelhos e em estado de alucinação tento lembrar-me da minha "classificação" na corrida e já não na caminhada.
Essa parece já não interessar.
Se venho a saber que fiquei entre os primeiros
ainda me aguento,
senão, desfaleço...
Ao menos, o silêncio deixa de ser ensurdecedor.

28/06/2007

Dedicado, com carinho, a alguns professores

"Teremos agora que definir outro termo, o de Portugal, e talvez fosse bom, antes de mais, citar outro poeta, o que pode parecer extravagante num trabalho em que se ocupa essencialmente de educação e em que mais viria a propósito falar de psicólogos e políticos, de sociólogos e, até de técnicos de educação; se se trata, porém, de salvar a criança que nasce e de proteger o mais possível o que da criança ainda sobrou no adulto, apesar dos nossos sistemas escolares, então mais adequados estarão os artistas como criadores, por não terem tido medo da vida, do que os sábios que apenas conquistaram saber, o que é diferente de fazer ciência, e o fizeram talvez somente para, com a erudição, proteger suas esterilidades e obedecer a seus medos de agir."

"Educação de Portugal"
Agostinho da Silva

E aconselho a leitura do mesmo livro. Ou não.
Isso seria, talvez, já demasiado ofensivo,
e doloroso, se acabassem por seguir o conselho.
Não, deixem-se estar...
Não se exige tanto de vocês, como é óbvio.

27/06/2007

Diluida transparência

Temporariamente no deserto,
estarei eternamente só?
Uma rara gota de orvalho.
E sem um pingo por perto...
Incomoda-me esta privacidade.
Choro ansiando a minha própria companhia,
mas as pequenas lágrimas evaporam-se com o calor.
Temo pela minha integridade.
Sinto-me mais fraco e diminuto.
Desesperado dissipo-me num suór de um ardor imenso.
Sou vapor.
Refrescam-me estes novos ares...
Fui...

26/06/2007

Vamos lá dar as Boas noites!...




















" As Associações de Estudantes do Ensino Universitário Público de Lisboa reuniram esta tarde na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa com representantes do Sindicato Nacional do Ensino Superior e da Federação Nacional de Professores para discutir o novo Regime Jurídico do Ensino Superior.

Os sindicatos mostraram-se solidários com as reivindicações dos estudantes, tendo sido consensual que este projecto-lei será, em parte, prejudicial para o Ensino Superior Português.

Os presentes consideraram que:
- é consensual a necessidade de uma mudança no actual sistema do Ensino Superior;
- a existência de órgãos demasiado pesados e complexos, que demoram demasiado tempo a decidir, e que dificultam o governo das instituições, necessita de alterações.

Constituem preocupações conjuntas, nomeadamente:
- a forma de eleição do reitor;
- a possibilidade de unidades orgânicas se transformarem em fundações públicas de direito privado sem serem ouvidos os órgãos das instituições;
- o afastamento dos estudantes dos órgãos de gestão das instituições, pondo-se em causa a democraticidade do sistema e a preparação dos estudantes;
- o autoritarismo manifestado por este governo, nomeadamente na exiguidade do período de discussão pública;
- a falta de regras no que respeita à participação de entidades externas no processo de formação de vontade das instituições.

Os estudantes querem participar na discussão deste diploma, uma vez que se consideram força motriz e fim último do Ensino Superior.
Consideram ainda de "má fé" que se queira aprovar esta lei num período de exames e provas para os estudantes e professores.

Para esta semana estão agendadas acções de luta que a seu tempo serão divulgadas. (Já estão divulgadas...)

Publicada por As Escolhas de Gago (dia 25 de Junho)"

Vai haver uma Vigília nocturna de dia 27 para 28 (amanhã!), na Assembleia da República. A concentração será às 19h, no local!

http://asescolhasdegago.blogspot.com/

http://www.portugal.gov.pt/Portal/PT
Reforma global do regime jurídico das instituições de ensino superior

25/06/2007

Errar, errar, e errar, cada vez melhor

Todos nós nos deslumbramos com o mar.
Todos nós ambicionamos
experimentar a imensidão marinha,
a vastidão dos seus horizontes,
a riqueza das suas correntes,
mas ninguém opta por aprender a nadar em mar alto.

22/06/2007

Prometheus_Media revolution

***TuNiNhuh *** 4:47 AM 11APRIL Idanha a Nova

Quão rapidamente passa a mensagem ?

Quão rapidamente ela é entendida?

Como encontrar respostas e novas perguntas?

Busca no Google : Problemas

-Sinto-me só

-Hi5

-Pois então o que queres encontrar? Um amigo? Que tipo de amigo?

Aquele popular?

-Aquela miúda boa…

-Hum… ou um o gajo popular, inacessível e pouco interessante.

-Mas o que eu gosto é de falar…

-Miúda boa…

-O que eu queria mesmo era uma relação…mas com uma miúda gira…

-Vou tirar uma fotografia no escuro… os meus olhos até são bonitos.

-Vou ser confiante e atraente… numa fotografia.

-Agora... Escrevo em tom apaixonado sobre os meus sonhos futuros…

-Invento quem sou…-

-Ela respondeu… e agora?

-Entusiasmei-me quando escrevia sobre mim…

-Invento… Divirto-me…

-Ela repondeu… e agora…

-Merda…

-Mais uma mensagem…

-Tenho que fazer um site sobre mim…

-Photoshop… ao lado de um ferrari…

-Ya ya ya…

-Myspace… siga!

-Vou ser agora surfista…bronzeado e atlético.

-Tenho que comprar uma prancha…

-Photoshop…

-Agora vou entrar nos melhores grupos… almeric… salomon…

-Gajas!

-Recebi um mail…

-Second life?

-Que é isto?

Just keep on dancing Jodie



















Ontem vi uma biografia da Jodie foster. Uma das mulheres mais bonitas do mundo, certamente. Especialmente enquanto nova.
A certa altura, ela começa a comentar aquela cena, em que no filme, "Os acusados", ela é violada por vários homens num bar, depois de dar vida a um momento sublime... Uma dança despudoradamente bela, livre e confiante, uma dança despudoradamente erótica.
E ela comentou o episódio, acompanhada da sua, também, bela inteligência, realçando o facto, do contraste entre aquele momento de entusiasmo, de plena liberdade e plena confiança, e o perigo. Acrescentando que a personagem do filme ainda não tinha consciência do facto de que dar aso a tamanha liberdade, a tamanha beleza tinha consequências sérias. Sugeriu-se, por fim, a prudência.
E tudo isto me fez pensar. Todo este episódio pode ser um reflexo da condição humana. Tudo isto levanta uma questão:
Devemos aprender a defendermo-nos do perigo, da "violação", salvaguardando a manutenção da nossa liberdade ou devemos abstermo-nos da nossa liberdade, resguardando-nos na segurança estática e evitando o perigo, o conflito com a "violação"?

Acho que todos sabemos a resposta. Mas quantos fazem dela uma convicção?

20/06/2007

Surgiu em jeito filosófico...

Não procuro bons fins, procuro bons princípios,
pois a vida, felizmente, é imprevisível.


E eu cada vez gosto mais dela assim.
E ela, de mim.

19/06/2007

2007rockstar

Sentado na minha harley sportster sinto-me uma verdadeira rockstar!!!
Sigo viagem rumo ao infinito, comigo levo apenas uma mochila.
Nela constam apenas uma muda de roupa, um telemóvel, um mac, um ipod, uma câmara de filmar, uma máquina fotográfica um caderno e um cartão de crédito…
Viajo sem destino…
Seguem mais amigos e mais motas nesta viagem, pouco falamos porque tanto vivemos, porque nada procuramos. Vamos em paz…
Paramos na vila mais próxima, bebemos uma cerveja enquanto rimos e jantamos a ver o cair do sol.
Belo luar hoje…vou-te desenhar... até amanhã…

18/06/2007

mais voar

Se descubro e o que procuro e qualquer dia encontro-te..

Vem ter comigo e voa, é lá em cima que me quero encontrar.Descobre-me no nosso infinito e planaremos juntos. Façamos desta viagem, a nossa viagem, procuremos um ritmo, dois ritmos, ou só ritmos...sentiremos a simples paz que todos procuram, mas complicam...procuremos a confusão que todos simplificam e usufruamos dela...vamos? Encontra-me. Vem, que eu parei de te procurar...
sei que estás perto ainda que desfocada..
.
Eu ando por aí....

17/06/2007

Pergunta-me porquê

Caminho, de passo íntimo, nos arredores do meu bairro.
É de noite e não há vento...
Sinto que não estou sozinho, e até me agrada a ideia.
Oiço uma voz, ao longe. Desvio o olhar e reparo num senhor.
Este também parece estar a preparar-se para dormir.
Mas irá adormecer, como já desde há muito tempo, debaixo duma varanda, na esquina de dois prédios, envolto num velho cobertor.
Começa a acenar, convictamente.
Tenta cativar a minha aproximação.
Eu deixo-me ir e agacho-me à sua beira.
Agarra-me, firme, no pulso,
e, como se este fosse um momento fulcral na vida dele, pede-me, encarecidamente:
-Pergunta-me porquê, jovem?
E eu perguntei:
-Porquê, meu senhor?

...

Não sei se repararam mas, JA lá vão dois anos de caminhada!!
e uma vez que os textos destes dois anos estavam todos reunidos numa unica pagina, tomei a atitude sensata de arquivar quase tudo. Estão à distancia de um clik nao se preocupem...

TITULO? PARA QUE??-2

Cá estou eu a dar por mim longe de vocês... Longe da faculdade... Longe da familia... as vezes longe da namorada. Sempre o mesmo longe que eu alcanço ou que me alcança a mim. Quando nos conhecemos tinha uma corda elastica atada a um pé, que me puxava para longe, para um mundo que era só meu. hoje em dia ja esta um bocado roida, e perdeu algum do seu vigor. Mas agora sou eu mesmo que me afasto, e sou eu que tenho relutancia em voltar, continuo a culpar a corda apesar de tudo... Talvez se soubessem que sou eu que parto por escolha propria, que sou eu que faço as malas e levo comigo com que me entreter, ao inves de tudo o que encontrava quando la ia parar nao muito por escolha propria... não me levem a mal. Vocês todos vãO sempre comigo. Sempre para todo o lado! As ancoras do meu balão... espero nunca vos esticar demasiado. espero nunca estar perto de vos partir

É urgente Pão e circo

1001 Festivais de verão!!!
Não há um único intervalo maior que cinco dias entre cada um deles...
Todos os estilos de música, todos os estilos de produção nos mais diversos locais do país.
E alguns até são baratos, alguns até acessíveis.
Mal posso esperar!
Isto vai ser uma loucura, caralho!
E tudo isto, no ano em que o desemprego subiu, em que os salários, proporcionalmente, mais baixaram desde há 20 anos, em que direitos e garantias sociais, até agora intocáveis, foram abruptamente retirados, em que inúmeros estudantes foram prejudicados por medíocres e deficientes adapatações ao Tratado de Bolonha, em que a extrema-direita teve um crescimento de visibilidade substancial.
Que coincidência "engraçada"...
Mas não vamos perder o Verão a pensar nisto, pois não?
Era o que faltava depois de um ano destes.
Muito menos perder tempo em selecionar festivais, ocasiões com carácter interventivo.
Não! Temos é que curtir à grande, sem stresses, e o ano que aí vem será outro ano...
Este Verão vai ser até rebentar!!!

Pão e circo para toda a gente!
Que estes porcos desesperados, enclausurados em latrinas, já comem de tudo e já esqueceram a dignidade.

16/06/2007

Um animal autêntico

Partiu directamente do trabalho.
Dirige-se de carro para o Gerês.
Precisava de um fim-de-semana só seu...
Na manhã seguinte não acorda sozinho, o sol também se levanta a mesma hora.
Os seus olhos brilham já mesmo antes de abrir a tenda.
Espreguiça-se através de gestos soltos, decididos mas harmoniosos.
Dá aso a acontecer-se e prepara-se para caminhar o dia inteiro por entre floresta, montanha, rios e lagos.
Usufrui de tudo o que lhe é oferecido e decide parar à beira de um lago, após uns refrescantes mergulhos.
Está de pé, com uma postura despudoradamente imponente e com o olhar selvagem readquirido.
Sente-se vivo!
Tem espaço para isso.
E as suas pernas balançam e balançam.
Mas não balançam por stress, por inquietação, por qualquer vontade ansiosa de fuga.
Balançam de desejo, de sonho, de agressividade afirmativa.
Sente-se um animal autêntico! E nunca se sentiu tão civilizado...

Regressa, agora.
Apenas porque jaz nele uma necessidade maior de vir a partilhar tudo isto com alguém especial.

12/06/2007

Inscreva-se, não apenas, para sentirmos a sua falta...


Por todo o lado se diz e se vê escrito:
"O Zé faz falta!"
E de facto, faz mesmo.
Tenho-o em grande conta.
Mas não o mitifiquemos, por favor!
Ou pior, não o transformemos num produto.
Esse Star System importado. Essa tendência em tornar produto consumível virtudes humanas que deviam era ser fomentadas em cada indivíduo por via da evolução pessoal. Essa tendência insaciável de tudo consumir para poder assegurar uma confortável mediocridade pessoal.
Vamos lá a ter calma...
O homem apesar da sua grande mestria está apenas a exercer o seu direito de cidadania. Apenas isso... Claro que não é coisa pouca e muito menos normal. Mas devia sê-lo! A democracia não é o princípio, e muito menos um fim. É apenas um estado intermédio contínuo. Estamos a meio do caminho...
Vá lá, temos que arranjar maneira de, em casa, nos sentirmos em casa.
Porque, como se vê, é possível.
E abramos os olhos, de uma vez por todas: é um direito nosso!
Ou já lhe perderam o gosto?...

O pêssego

É de manhã. A casa está bastante iluminada.
Estou na sala a comer um pêssego.
A degustá-lo, a vislumbrá-lo.
A sua casca macia e felpuda. As suas cores, estonteantes na sua particular variedade, na sua intensidade. Todas elas, parecem dar-se bem no meio desta abundância. Todas elas parecem ter algo a dizer-me. Algo que me diz muito.
Quase demais. Estou arrebatado!
Chega a lembrar o fogo, o pôr do sol, também, sei lá.

O engraçado é que estou só a comer um pêssego. Só. E concentrado no que estou a fazer.
Mas é em momentos como este, precedidos por outros, que ajudam a proporcioná-lo; momentos esses que não são de desprezar, longe disso, mesmo; que por vezes sinto um enorme prazer em viver.
É como se por descuidos inconscientes eu tomasse intuitivamente noção do que é ser o meu ser.
São pequenos grandes momentos que têm vindo a reaparecer. Felizmente.
Não é por qualquer razão que voltei a pegar nas músicas do John Lennon.
O que não é feito pequeno, esse.

01/06/2007

Hoje abracei-me

Hoje acordou com má cara. A sua entrada na cozinha foi a de um estranho envergonhado.
Dormiu mal, certamente.
Aquele sono que por vezes o assombra: um sono ansioso. Ansioso por acordar, não por dormir. Um sono com o peso do arrependimento e o ruído da culpabilidade.
Depois de algumas expressões de submissão com o intuito de me cativar, de cortar o silêncio, de me distrair dele mesmo falou-me do seu cão...
"O grande e fabuloso Calvin". "Uma pessoa autêntica" nas palavras dele. E lembrou com saudade a imensa companhia que este lhe fez em tempos difíceis.
Chorou de saudade...
Era um grande cão, sem dúvida alguma, mas o choro não era só reservado a essa personagem, tinha outros motivos. Era mais profundo e era principalmente um choro de vergonha.
Nem me deixava apreciar-lhe as lágrimas, apressava-se a limpá-las mal elas acabavam de brotar.
A certa altura o choro cessa e ele dá liberdade a um belo grito brutal, abre os olhos ainda vermelhos e fixando-me no olhar abraça-me.
Abraça-me com força voltando a chorar e finalmente descansa em mim...
Acaba retomando a conversa sobre o Calvin, mas, agora, já sem saudade, com alegria talvez. E despede-se agradecido.