29/01/2008

Cansaço este, que se apodera do meu corpo sem comando proprio, que me encaminha para algo minimamente interessante ou nao fosse a sua possivel virtualidade.Quanto a ela, nada posso fazer senao acreditar que o futuro nela reside, e que em mim o que reside é a intuiçao humana à qual nos gostamos de agarrar (por medo?) procurando justificar os nossos actos, estes sim por medo ou por valentia.Os paradoxos formam um par engraçado, que nos persegue em sombra todos os dias para se manifestarem esporadicamente quando nos apercebemos que uma coisa nao acontece sem outra.Nao existe o bem sem o mal,o amor sem o ódio, a dor sem o prazer, o principio sem o fim, a vida sem a morte.
Partindo daqui, presumindo uma longa vida , calculo que viverei todos estes paradoxos.Mas e a questão que imediatamente vem à cabeça é: vale a pena conhecer o "bom" lado de tudo sabendo que tenho que obrigatoriamente conhecer o mau?

Mas como seres humanos, vamos à mesma...E por isso é sustentável que acreditemos em tal coisa como a intuição.

Ah, é verdade, ela leva-me para a virtualidade!Se eu me encaminho para a virtualidade, confiando na minha intuiçao afirmando entao que acredito que seja uma bom caminho a tomar, o que será o lado "bom" do paradoxo , o que considero então mau?
A realidade.

Ou poderá a virtualidade ter outro paradoxo?
A minha intuiçao diz que sim...

19/01/2008

O espírito (II)

As personagens de o romance são pequenos deuses:
- Que traços!

Têm o seu desígnio, o seu carácter, o seu traço. São acabados, são passados, são perfeitos. Entes gravados numa ideia; Quem não acredita em tais entes? Quem pode duvidar dos seus sacrifícios? Da sua vida?
Para mim são verdadeiros. São deuses pois, claro que são. Entrego-me a eles, estou nas suas mãos, o meu dia está com um deles em cada flanco, e o meu amanhã é glorioso como a pior das decadentes vidas deles;
Não é música que ouves no comboio(?), na multidão onde as gentes um pouco inusitadamente, de olhos no chão, por vezes nos olhos, se encontram envergonhadas por tanta intimidade, tanta proximidade? Parece que é música que oiço. Pois é uma vida, é uma tragédia: tudo começa e acaba ali; são momentos de interregno, são pausas para a vida em que a tensão aumenta para desembocar numa saída à pressa por portas já de outro mundo. Passam então os heróis por mim, aqueles que sem saberem têm o fardo de libertar os homens, de dar a vida pela humanidade, aqueles que fazem desta uma divindade: é glorioso como disse.
Estas são as que me acompanham, que me tiram o excesso que me vão sendo.

18/01/2008

O espírito

Quem escreve pode ter os amigos que conseguir criar, quais inquietações que queremos sanar nos outros, as que procuram um reflexo de todas as possibilidades em alguém que nos eleve, as que procuram uma história que revele um pouco mais de sensações, de textura, de um tom. É um tom de humanidade, de cor de alma, pessoa; per sona (máscara), a personagem que sempre procuramos, a identidade que reconhecemos nalguns, que se passeia em nós por medos, ambições ou deboches; ora vagueia na ingenuidade ora se enche de orgulho e certeza, segura de exemplos de heróis e de encantos:

Quantos passos decididos são os do homem que aponta a arma ao seu irmão(?), quantas flores tem o dia de uma puta(?), quantas almas tem uma mãe(?), quantos actrizes, mulheres a dias, taberneiros, enfermeiras e enfermos, donos e empregados, quantos acordam comigo, quantos são para mim mais um dia?

15/01/2008

A minha Terra

-"Portugal devia ser uma região espanhola"

É algo que me irrita profundamente.
Todos os ditos que com este estão relacionados.
Cultura também herdada de um cínico, hipócrita e ignorante estrangeirismo por parte dos numerosos estrangeirados. Uma cultura que esconde a cobardia de quem se põe de lado, de quem se abstém, de quem abandona o seu caminho.
Apenas foge, contudo, altivo e sem vergonha, minando com ignorante escárnio e mal dizer toda a sua terra.
Tornando-a infértil. Seca, pelo complexo de inferioridade, estéril, pela confusão e pelo abandono.
Pois bem, este indivíduo renuncia a algo que está naturalmente impossibilitado de renunciar.
Ser português faz parte dele. Renunciar a isso é renunciar à sua natureza. Ou à reconciliação com ela. É renunciar a parte de si mesmo. Uma grande parte. É perder a ligação à Terra, a ligação ao Outro, a ligação à História. É perder tanto...
E muitas vezes a favor da ilusão de classe, de elite. Pôdres...
Mentes de vôos rasos.
O que é isso, ao pé de uma nação?
A ideia de povo, de uma cultura, de um saber estar, um saber pensar, um saber sentir que ao longo da história evoluiu e aprendeu e tanto nos tem a ensinar.
Como ignorar as fachadas típicas das nossas ruas, a maneira de falar, ora rude, ora ternurenta.
As árvores que presenteiam as nossas cidades, as nossas aldeias, a Oliveira, o Carvalho, o Pinheiro manso. A montanha e o mar imenso e o povo forte e sábio que foi forjado no meio de tão bela e elegante contemplação. O poeta analfabeto. A música. A poesia. A porcelana. A poesia na porcelana. Os azulejos. A dança... A dança do nosso território. As ruas que serpenteiam colinas. Sei lá!
Tudo isto que sabemos que faz parte de nós.
Este inconsciente colectivo que é nosso visceralmente.
Que o merecemos.
E que temos obrigação de o preservar e também de o fecundar coonnosco!
E como nosso, então, amemo-lo. Ou odiemo-lo, tudo bem.
Vicissitudes incontornáveis de uma caminho inevitável.
Nietzche odiava a Alemanha. Convictamente. Não se abstinha. Odiava.
E já é preciso muito amor, ou pelo menos, muita vontade de amar para odiar algo.
Eu tento amar Portugal como me tento amar a mim mesmo.
Se tem sido fácil ou não é uma questão irrelevante.

O sol no Inverno

O sol é generoso nesta época do ano.
Prescinde de ser o protagonista.
Desce das alturas e
dobra-se e desdobra-se
de todas as maneiras
de forma a se oferecer.
Agachado, dá o protagonismo a todos os outros.
Intensifica as suas cores, multiplica o seu brilho.
Como que empresta a sua luz por momentos.

Inverno

As árvores no Inverno despem-se
partilhando as suas folhas.
As árvores no Inverno recolhem-se na sua essência,
na sua estrutura.
Estão introspectivas e reflectem.
As árvores no Inverno não agarram a luz
não a possuem.
Esta atravessa-as.

02/01/2008

Não tenho nada para fazer

Fecho os ouvidos e tento-me concentrar. Ideias, são ideias novas que procuro. Que me apareça algo novo, inteligente e refrescante! É disso que preciso. Ser pro-activo, fazer algo por mim que tenha força e que surpreenda os demais. Mostrar trabalho, mostrar valor.
Pego na lista de clientes da agência e leio-a novamente. Não me surge nada em concreto. Cerro os olhos e aplico um murro interior em cheio no meu orgulho.
A minha mente viaja para outro sítio. Verdes campos e húmidas colinas passam por mim. Genuínos sorrisos pairam sobre as árvores do meu caminho e um aroma a jasmim vai dançando comigo enquanto respiro. Sento-me junto a uma oliveira e acendo um cigarro. Pego numa das folhas caídas pela relva e desenho uma arcaica sepultura nela. Viro a folha do avesso e escrevo uma ideia brilhante, uma ideia perfeita. Tento focar o meu olhar no que escrevi e não consigo - a minha visão é turva, não me permite descortinar nada com clareza. Quero tanto ler o que criei! Sinto que era mesmo aquilo que procurava...Merda!
Abro os olhos e continuo com um monitor à minha frente. A sua luz artificial é tão intensa e crua que me hipnotiza, puxando-me com agressividade para dentro do ecrã. É lá que estou agora: enclausurado e sem ideias.