28/03/2007

Tocqueville

"Quem procura na liberdade coisa diferente da própria liberdade é feito para servir."

Alexis de Tocqueville
Pensador político clássico, de grande nível. Para mim, um grande sociólogo também, de características modernas ( ou devo dizer caracteristicas pós-modernas...). Estudou essencialmente a Democracia com um humanitarismo especial que advinha também do seu carácter aristocrático.

Sugiro a leitura. Um clássico muito útil para percebermos o mundo de hoje.

26/03/2007

Salazar: o maior português de sempre

Pois vejamos... Ridículo, dramático, trágico? Não.... Curioso é o que este resultado é. Pelo menos é isso que deve suscitar depois de sentido o primeiro impacto. Curiosidade. Sentimento dinâmico que estimula a análise e promove a acção.
Como foi dito, e bem, no programa, este resultado pode advir de o facto de as "más motivações" terem a tendência a se mobilizarem mais que as "boas motivações". Que por vezes, e mal, tem uma outra tendência, a de se satisfazerem por si sós e a de se instalarem num conformismo confortável. Pode advir também do facto de as votações entre Alvaro Cunhal e Salazar se terem espicaçado uma à outra até ao último momento. E advém também dum certo descontentamento, um certo mal-estar face ao presente que teve como resposta uma reacção de carácter básico de retorno ao passado, uma revolta...
Ora, então que mal-estar será esse? Porque é que se voltou para o passado? E porque é que se concretizou na opção por duas personagens políticas, e personagens políticas essas que representaram ambas Regimes autoritários? ( Bem diferentes um do outro. E de circunstâncias e influências bem distintas no nosso país. Há que salientar...)
Penso que se deve tentar procurar uma relação entre as diferentes questões que se levantam.
Um homenzinho de quem eu não me lembro do nome que participou no programa desenvolvendo a sua opinião de que o resultado advinha de um mal-estar que se sentia face à nossa actualidade, disse que a privação de liberdade sentida no Estado Novo era tão grave como um velho ser tranquilamente despedido nos dias de hoje. E que a natureza das preocupações políticas com as finanças e com a economia nos dias de hoje não diferia muito das mesmas preocupações políticas no Estado Novo. Eu discordo. Mas lá que dá que pensar dá...
Realmente sente-se uma preocupação política excessiva na economia. E a competitividade passou a ser um chavão que serve para tudo. A bem da competitividade e em reacção ao sentimento de inferioridade que a ela depois é associada, adopta-se programas de desenvolvimento e padrões de vida importados que nada têm a ver connosco e com a nossa identidade e circunstância nacional. E os direitos e seguranças sociais são-nos retirados, mais uma vez, tranquilamente. Em prol do bem comum? E que bem comum é esse? Para onde nos dirigimos? E será que vale a pena o esforço, para esse destino?
Nos meandros da pouca boa sociologia que eu conheço ( conhecendo mais, mas também pouca, má sociologia....) fala-se em crise burocrática, crise de hierarquização dos poderes ou crise de legitimação do poder. Fala-se também em anomia!... E aqui, é claro que o vazio de valores de referência existe, corrói tudo à volta e desorientando as pessoas afasta-as mais que o devidamente necessário.
Logo, o resultado deste concurso sendo negativo não deve por isso ser ignorado ou até subestimado porque penso que está carregadíssimo de significado. Responsabizemo-nos então pela sua compreensão? Porquê esta reacção? Porquê esta revolta? E agora, então, num momento em que podemos achar que não valerá a pena, mais que nunca...

21/03/2007

Vitais, estranha humildade e dolorosa resignação

Mundo, eu aceito-te como és.
E tu aceitas-me como sou.
É aqui que tudo começa.
É aqui que começa o amor.

13/03/2007

Impulsos contidos

Sentado numa velha e feia escrivaninha branca, esquartejada por x-actos afiados ao longo do seu penoso período de vida, oiço. Um sujeito hierarquicamente superior fala de peito peludo aberto vangloriando-se subtilmente através de falsos ensinamentos e opiniões experienciadas. Solta piadas amarelas em forma de grunhidos como se estivesse aposentado num qualquer encerado bar, com o seu charuto na mão e o copo de whisky apoiado na saliente barriga, rodeado de putas e rastejantes engravatados. Sorridentes.

“Eu sei quem se esforçou, todos sabemos perfeitamente quem batalhou e dedicou tempo à elaboração do trabalho do logótipo…esses foram recompensados! Pelo contrário, aqueles que só apareceram com o trabalho no final já não o foram…muito pelo contrário!”. Ao ouvir da bafiosa boca do pintas tamanha tese lembro-me que este mesmo pintas foi aquele que faltou a 70% das nossa aulas, foi este merdas que variadas vezes nos deixou à sua espera durante períodos que chegaram a variar entre os 30 minutos e as 2 horas!!Foi claramente o gajo menos assíduo e pontual que apanhei em toda a minha vida.

Coloco o dedo no ar e ele acede ao meu pedido para falar. “Diz, diz miúdo!”.

“Prof, posso-me aproximar?...”, questiono sorridente e educado.

“Como quiseres rapaz, tas à vontade hã!?”, responde o bisonte de uma maneira fortemente brejeira e desprezível.

Levanto-me calmamente, esgueirando-me subtilmente pelas escrivaninhas brancas de cabeça baixa e, chegando perto do “senhor” professor sussurro-lhe docilmente ao ouvido – Você é um merdas!!, Encaixo a palma da minha mão na nuca do gordo e SPLAFFF!!, num movimento seco e glorioso estatelo o seu crânio seboso com descontrolada agressividade na quebrada quina da sua feia escrivaninha branca.

Agradeço-lhe com um aceno, enquanto olho para baixo para a sua fronha ensaguentada, e volto fluídamente para a minha velha e feia escrivaninha branca.

Sento-me tranquilamente e esboço um sincero sorriso, com um brilho no olhar.

16/3/2006

O Combate

Não se olha, sente-se.
Iniciando uma jornada reluzente o caminho parece, à primeira vista, turbulento e difuso.
Rasga-se a mecânica do quotidiano com um sorriso durante a entrega ao desconhecido.
Os membros estão pouco vivos, um trémulo respirar impede a fluidez, mas não imobiliza a energia. Tanta beleza em meu redor, ofegante e sincera, tanto pólo de magia e prazer, tanta vontade de viver.
Escreve e Liberta-te, sim, tu, esquecendo preconceitos e inseguranças, o caminho é belo e quer que tu o percorras com honestidade, entrega-te a ele. Destrói as estruturas pré-concebidas do escrever, perde-te em divagações inócuas, sai de ti e do mundo, e volta com outro olhar.
Respiro ofegante, sincero, e beijo-te vida.

9/3/2007

Agora escrevam um texto em pouco menos de 10 minutos. Podem começar.

12/03/2007

Chegou a hora

É tempo de aceitar que ficou por dar
amor devido amor amado
É tempo de largar a mão
tempo de me despedir
Chegou a hora de a mão abrir

Cansado, muito cansado

-Anda. Bora! Dá-me a mão. Vamos por aí...
-Eh pa... Não dá. Tou cansado, muito cansado.
-Mas vem à mesma.
-Não vou, foda-se! Respeita-me. Estou desfeito, pôdre. Não percebes isso?
É que é um cansaço que magoa, que corrói, que enlouquece...
Nem imaginas, não podes imaginar.
-Mas...
-Tenta compreender!
Aceitar ao menos.
-Mas eu aceito Pedro... E quero compreender.
Estás assim cansado porquê? Diz -me...
-Sei lá! Não sei... De tanta coisa.
-Estarás cansado de ter medo?

11/03/2007

E naquele exacto momento

Domingo. Acordo mais cedo. E apresso-me a almoçar. Um almoço variado e nutritivo. Afinal de contas, vou andar de bicicleta. Algo que para mim é mais do que andar de bicicleta.
Planeio passar pela Estação Agronómica, esse oásis por muitos esquecido, pelo Jardim de Oeiras, local de convívio familiar aos Domingos e de ocasionais trocas de afecto, e por fim, pela praia, que estará cheia por esta altura mas que me oferecerá o mar como sempre. Mar esse que está sempre pronto a dar. A presentear-nos com mais espaço do que lhe pedimos e a levar assim consigo uma boa parte de uma certa claustrofobia que teima em não deslargar.
Bem, lá vou eu. Sem esforço vou gozando bons momentos: o raiar do sol e a boa visibilidade. O olhar do pôtro. Dois velhos à conversa, um casal de namorados que escolheu deitar-se na relva, uma criança jingando atrás de um pato. E o mar, o imenso mar.
Ao chegar a casa ainda me sinto com energia e a ideia era acabar a volta com o prazer da exaustão. Dou meia-volta e continuo. Deixo-me ir... Está-me a saber bem. Está-me a fazer bem.
Ao olhar para dentro de um carro que passa no sentido contrário vejo alguém especial. Uma rapariga que no liceu me deixava completamente louco.
Fabuloso!... É possível que ainda esteja mais bonita.
Ela não ia devagar, mas ainda abrandou, contudo a situação não proporcionava o encontro, portanto ficámo-nos pela troca de olhares e pelo cumprimento.
O momento alonga-se e prolonga-se para além de si mesmo. E eu saboreio-o deliciado, recordando-me e fantasiando.
Fabulosa rapariga!...
Neste exacto momento.
Uma estranha personagem destrói-me o equílibrio e derruba-me. Caio da bicicleta! A queda é pesada e aparatosa.
Deitado no chão de barriga para cima, zonzo e dorido, sinto que não vejo bem.
Uma cara se debruça violentamente sobre a minha!
-És um merdas!
-O quê?... - respondo atordoado.
-És um merdas Pedro Garcia. - di-lo como se em mim cuspisse.
Estranho e confundo-me com o facto de a personagem saber o meu nome.
-Nem foste capaz de dar meia-volta e ir cumprimentar a rapariga... Vai-se a ver e foi o mais acertado.
Olha bem para ti Pedro Garcia és uma criatura lamentável. Nunca mais te ergueste decentemente depois da tua queda.
Ainda te alimentas do passado. Em nada és muito bom. Há cinco anos que andas a tentar acabar um curso de três. E tens 22 anos e nunca tiveste uma namorada a sério.
Não sei... Queres ouvir mais é? Até dás vontade de rir.
-Mas... - gaguejo ao responder. Estou estupefacto com a situação e a sua verosimilhante agressividade paralisa-me.
-E, por vezes, ainda entoas o teu nome, Pedro Garcia, de uma forma sonante. Sabes a que me refiro. Ao teu ridículo narcisismo. E não é só o teu narcisismo que é ridículo. Tudo em ti é ridículo! - di-lo gritando-me ao ouvido.
Nesta altura já estou completamente à nora.
-Ainda chegaste a pensar em voltar atrás para falar com a tal rapariga? Para quê? Hein? E para quê, meu otário? Achas que merecerias aquilo? Achas?
Apenas tento-lhe responder com o olhar, já nem as palavras me ocorrem quanto mais uma lúcida argumentação.
Mas de repente começo a ver com mais nitidez e a sentir-me menos atordoado. Ergo apenas o tronco, com a força hesitante dos meus braços, devagar, forçosamente. E olho à volta, expectante...
O estranho personagem digno de um pesadelo desapareceu!
Mas não o fez sem me deixar desfeito e completamente desnorteado...
- O que é que foi isto?!
Pego na bicicleta cambaleando e direcciono-me para casa, a pé. Olhando envergonhado para os outros e pasmado para mim mesmo...
O caminho para casa é a subir. Sinto que a sinistra personagem talvez não me fosse totalmente desconhecida. E tenho a sensação que já me teria aparecido em momentos parecidos.
Mas a unívoca realidade que a personagem revelou ainda se me apresenta como a própria realidade...
Sinto-me um merdas!
Tenho que me recompor...

08/03/2007

insaciável receber dos sentidos

Sonoridades dinâmicas e cruas, movimento auditivo tão agradável como um sincero carinho vindo de um alguém sentido. Voar sentado através dos acordes e batidas expugnados de um canto para outro, para este canto, para a imaginação. Canta e salta! Onde o tempo não existe, só o estar e o receber, o dar. Procurar, cores e sentimentos, aventuras e lamentos, divertimentos. A guitarra arranha docilmente o espaço, cortando o tempo com um acorde flutuante, cerro os dentes e sonho…Prazeroso sonhar, mágico que me ultrapassa sempre que me surpreende surgindo inconscientemente como um pôr-do-sol cumprimenta o mar, leva-me para onde for, envia o meu ser para qualquer local, para qualquer momento. Quero ir, deslizar tranquilamente por qualquer nota, por qualquer areia ou batida…tocar uma nova textura, receber a sua forma e o seu cheiro na ponta dos meus dedos.
A minha percepção deliciada é o que peço, faz-me fechar os olhos e sorrir, emociona-me, transforma-me se assim o desejares!, oferece-me novas e queridas experiências, e eu voo contigo.

14/12/2006 – Garagem do Nuno

Finalmente

Finalmente entendo-te, solidão. Envolve-me nos teus braços e acompanha o meu passo. Tu e eu, eu e tu, eu e eu e o mundo. Juntos conseguimos viver em harmonia, criar momentos de simples prazer de estar, juntos somos quentes e aconchegantes, frios e raçudos, activos. Abraça-me solidão, mostra-me como é maravilhoso respirar e guia-me por estes tortuosos trilhos de ignorância e incapacidade, iluminando o meu pensar. Salva-me do meu exterior e do exterior em mim, e do interior que me habita sem me pertencer. Caminhamos juntos solidão, unidos.

14/12/2007 – Garagem do Nuno

07/03/2007

...também...

Fujo de casa.
Fujo de casa porque estou ferido e magoado.
Fujo também porque quero.
A casa que deixo para trás era fria,
de fracas cores e mal iluminada.
O quotidiano vivido monotonamente,
acompanhado a favor por diálogos piedosos.
O afecto não fazendo por mal tornou-se gasto,
e o amor vendo-se sem espaço apodreceu.
Fujo da casa que foi minha.
Fujo porque estou ferido.
Fujo também porque quero...