O melhor artigo de opinião dos últimos tempos
Miguel Esteves Cardoso
Público
Sexta-feira 8 de Julho de 2011
Dependentes
"Estamos dependentes da União Europeia. Estamos dependentes da agência Moody's. Estamos dependentes do Banco Central Europeu. Estamos dependentes da Alemanha. E do FMI. Estamos até, com a lógica de um silogismo aristotélico, dependentes da Grécia.
Afonso Henriques foi o primeiro protoportuguês a perceber que não era bom Portugal ser dependente - por muito boas que fossem as potências de que dependíamos.
Custa ser-se independente e é doce e morno ser-se dependente. Fazemos de conta que estamos entre amigos. Só que, como a Moody's espertamente averigua, não somos suficientemente ricos para pagarmos aos mais ricos que nos emprestaram - e emprestarão - dinheiro.
A questão tem de ser posta ao contrário: se Portugal não pagar o que deve, sofrerão os bancos e países que apostaram que seriamos capazes de pagar o juro guloso que nos cobraram? Sofrerão pouco. É esse o rating que nos interessa e que ninguém se dá ao trabalho (porque não dá lucro) de calcular: quanto empobrecerão os bancos e países que nos emprestaram dinheiro se nós reconhecermos que não temos dinheiro para pagar?
É pouco. O euro é uma moeda ditada pelos ricos para extrair dinheiro aos pobres. Cria uma independência insolúvel: a dos criados que pedem dinheiro emprestado aos patrões, sabendo ambas as partes que nunca se conseguirá pagar. O nosso poder, mais do que não pagar, é não pedir e não precisar de depender. Nós somos Portugal e, sem independência, não somos (quase) nada. É fácil."
Público
Sexta-feira 8 de Julho de 2011
Dependentes
"Estamos dependentes da União Europeia. Estamos dependentes da agência Moody's. Estamos dependentes do Banco Central Europeu. Estamos dependentes da Alemanha. E do FMI. Estamos até, com a lógica de um silogismo aristotélico, dependentes da Grécia.
Afonso Henriques foi o primeiro protoportuguês a perceber que não era bom Portugal ser dependente - por muito boas que fossem as potências de que dependíamos.
Custa ser-se independente e é doce e morno ser-se dependente. Fazemos de conta que estamos entre amigos. Só que, como a Moody's espertamente averigua, não somos suficientemente ricos para pagarmos aos mais ricos que nos emprestaram - e emprestarão - dinheiro.
A questão tem de ser posta ao contrário: se Portugal não pagar o que deve, sofrerão os bancos e países que apostaram que seriamos capazes de pagar o juro guloso que nos cobraram? Sofrerão pouco. É esse o rating que nos interessa e que ninguém se dá ao trabalho (porque não dá lucro) de calcular: quanto empobrecerão os bancos e países que nos emprestaram dinheiro se nós reconhecermos que não temos dinheiro para pagar?
É pouco. O euro é uma moeda ditada pelos ricos para extrair dinheiro aos pobres. Cria uma independência insolúvel: a dos criados que pedem dinheiro emprestado aos patrões, sabendo ambas as partes que nunca se conseguirá pagar. O nosso poder, mais do que não pagar, é não pedir e não precisar de depender. Nós somos Portugal e, sem independência, não somos (quase) nada. É fácil."
1 Comments:
Parabéns!!! O melhor exemplo de artigo de opinião que pude ler. Obrigada pela capacidade de através dessa arte incrível,que é a escrita, ampliar a minha visão e a dos privilegiados que tiveram a oportunidade de "mergulhar na sua opinião".
Abraço...
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