19/03/2008

Um almoço em Tavira

Nunca me esquecerei daquela família.
Estava sentado a almoçar numa esplanada da ilha de Tavira e observava em regozijo o quadro que se apresentava defronte de mim mesmo.
Um casal francês com dois filhos, um rapaz e uma rapariga. E que belo quadro era aquele! Que harmonia pairava sobre aquela família.
A mulher era morena, cabelo curto de boa proporção, e olhos verdes. Sentava-se apoiada numa suave e forte base de ancas. Belas ancas, generosas, que se prolongavam numa saudável postura de costas, e ombros ligeiramente descaídos para trás, com elegância. Por fim, uma cabeça bem levantada, que um qualquer ignorante confundiria com vaidade, acompanhada por um olhar, acima de tudo, sereno. Uma verdadeira força da natureza! Mas, ali, em repouso. Não precisava de muito para cumprir generosamente o seu papel maternal e conjugal. Bastava a sua presença. Bela!
O pai das crianças era um homem com muito bom aspecto. Com traços viris e ternos, ao mesmo tempo. Um bom equílibrio dos opostos é sempre digno de admiração. Estava sempre a meter-se com os filhos. Intercalava esta sua arte com o contraste de momentos sérios e de aparente indiferença, e brincadeiras enérgicas e expressões cómicas que deliciavam os filhos.
Os putos eram os dois lindos. Não apenas por serem bonitos mas por exibirem uma liberdade e uma graciosidade selvagens, naturais. Os seus gestos eram soltos e amplos, ainda não tinham sobre eles o peso de intenções externas. Movimentavam-se segundo a sua natureza, com uma simplicidade, em si, completa, quase celestial. Teologicamente falando estas crianças ainda não tinham sido "expulsas do paraíso" mas duvido que ainda não tivessem provado nenhuma maçã... O que questiona muita coisa!
Havia ali tanto que me atraía e sobre o qual eu podia começar aqui a discorrer. Mas havia uma questão que, particularmente, me toca neste momento. Desde novo que quero ser pai. E senti ali, e penso, que ser pai, ter um filho, numa perspectiva invejosamente saudável, passa muito por um ressuscitar paternal. O pai quer dar a ver, quer oferecer a vida ao filho, quer-lhe mostrar o mundo, as coisas no seu estado mais puro e, aí, é como se as revivesse em consciência, bebendo e aprendendo novamente através dos olhos do filho a visão primeira e límpida de todas as coisas.
E esta sim é a partilha, a educação principal que deve haver entre pai e filho, entre mãe e filho. A outra? É secundária.
Nunca me esquecerei desta família...

1 Comments:

Blogger Arnaldo Icaro said...

partilho inteiramente da tua opinião/desejo de ser pai, é exactamente isso que sinto.
Muito bem descrito essa vontade, e essa família fantástica que com quem igualmente me deliciei.

grande texto steila!

10:30 da manhã  

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