17/02/2008

Escrevemos porque não temos com quem falar

Escrevemos porque não temos com quem falar.
Essa é que é essa!
O Diálogo tão vital e tão urgente é escasso.
É esporádico e bastante exigente face às condições com que se digna a manifestar-se.
Então, recolhemo-nos e reencontramo-nos, reinventando linhas de comunicação paralelas.
E sendo esta a realidade também eu me esforçarei por escrever cada vez melhor.
Mas a verdade, é que eu não fui feito para escrever.
Aliás penso que ninguém foi.
Não sei se continuo a acreditar no diálogo na sua plenitude mas que o continuo a desejar é certo.
Imagino, por exemplo, a Grécia Antiga, os seus filósofos e os seus discursos.
E é estar a imaginar um tempo e uma terra "literárias", com "escritores" livres declamando, à solta, os seus contos, os seus poemas, os seus ensaios a quem passa na rua. Cultivando em cada pessoa em cada pequeno pedaço de terra os seus sonhos, os seus ideais, as suas personagens, o seu mundo.
Devem ter sido tempos áureos estes. Se foram como os imagino. Ou melhor, como os quero imaginar...
Tempos em que o diálogo existia.
Essa arte divina. Esse convívio celeste.
Em que as palavras ganhavam vida, ganhavam corpo, ganhavam forças nos gestos do seu autor e expressão nos olhos, e música no tom que este lhes emprestava.
O "artista" podia tocar nas pessoas que o estavam a ouvir que estavam a partilhar o seu entusiasmo. Podia ver nelas, até, a reacção imediata ao que dizia. Podia ouvir, prontamente, a resposta ao que oferecia. E responder com igual prontidão no calor do momento.
Isto sim era diálogo! E eu amo o diálogo. E amo-o porque é nele que a vida acontece.
Por fim, gostaria de questionar se Montaigne teria escrito os seus ensaios caso o seu caro amigo La Boétie não tivesse morrido. Se teríamos o privilégio de os ler se tal não tivesse acontecido. Aliás ele próprio disse que escrevia os ensaios imaginando-se em diálogo com La Boétie. Portanto só este pequeno pormenor já me parece uma boa pista.
Mas pronto ficou a propriedade, o livro.
Contudo, tivesse sido dada a escolha entre uma coisa e outra, a Montaigne, e, certamente, ele prescindiria da sua propriedade e regozijar-se-ia com o fluxo "anónimo" natural da vida.

2 Comments:

Blogger Arnaldo Icaro said...

é bom ler-te amigo!

5:02 da tarde  
Blogger Elvia Vasconcelos said...

procura a conversa então!te garanto que há muitos gregos por aí.

12:14 da tarde  

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