Ensurdecedor
Morro de medo...
E eles estão sempre presentes.
Criando uma atmosfera de constante incógnita, de constante dúvida.
Criando um abismo em cada montanha.
Cada caminhada essencial tem sempre o mesmo desfecho:
Chego a rir-me, oferecendo-me.
Estou cansado e ainda entusiasmado.
Estou expectante...
E pergunto bem alto, com uma voz terna e confiante:
"Então, como é que estive?
Estive bem?..."
A pergunta mal tem tempo de gozar o exterior.
Seguir o seu caminho.
É sugada, de imediato, pelo meu interior
e ecoa em todo o meu eu...
Ecoa, ecoa e ecoa.
Percorre-me por completo.
Velozmente!
Mas nada encontra...
Não tem resposta.
Então, vira-se contra mim!
Com uma agressividade brutal, inesperada.
Uma agressividade incompreensível.
Ressoa cruelmente em tons dolorosamente agudos.
Numa melodia louca e enlouquecedora,
numa melodia sem lógica, sem justificação.
Atordoa-me física e psicológicamente
e fere tudo, tudo o que me é interno, tudo o que me é essencial,
tudo o que me é querido.
Já de joelhos e em estado de alucinação tento lembrar-me da minha "classificação" na corrida e já não na caminhada.
Essa parece já não interessar.
Se venho a saber que fiquei entre os primeiros
ainda me aguento,
senão, desfaleço...
Ao menos, o silêncio deixa de ser ensurdecedor.