28/05/2007

a fatal imaginação da nossa mente

"Passa de vez em quando uma rapariga numa vida, uma rapariga alta e morena, com cabelo até à cintura, que olha para trás e para nós como se nos pedisse para dizer "eu vou matar-me". E essa rapariga só precisa de um segundo, de um pequeno segredo, que nos esconde na alma, sem se importar com isso. E fica-nos para o resto da vida, presente em todos os instantes da vida, atravessada nas nossas poucas alegrias.
Arruina-nos os amores, passando pelos quartos onde estamos deitados com raparigas muito piores e olhando por cima dos ombros como se tivesse pena de nós.
Às vezes passa uma rapariga na vida que nunca mais deixa de passar, que nos interrompe e condena e encanta, sem saber o mal e o bem que nos faz e que nos fica na alma como aquelas pessoas que passam no momento em que se tira uma fotografia e passam a ser a pessoa que
se fotografou (...)"


"Trocaria a memória de todos os beijos que me deste por um único beijo teu. E trocaria até esse beijo pela suspeita de uma saudade tua, de um único beijo que te dei."


"Quanto mais longe, mais perto me sinto de ti, como se os teus passos estivessem aqui ao pé de mim e eu pudesse seguir-te e falar-te e dizer-te quanto te amo e como te procuro, no meio de uma destas ruas em que te vejo, zangado de saudade, no céu claro, no dia frio. Devolve-me a minha vida e o meu tempo. Diz qualquer coisa a este coração palerma que não sabe nada de nada, que julga que andas aqui perto e chama sem parar por ti."


Miguel Esteves Cardoso

27/05/2007

Nove

Nove olhares me marcaram
Nove vezes em que morri.
Nove amores com que sonhei
nesses nove só um senti.


Nove dias de sofrimento
Nove dias de alegre loucura.
Nove sonhos desejei tocar
nesses nove só um tentei.


Nove pensamentos por segundo
Nove entraves por cada um deles
Nove tentativas de libertação
Nessas nove só uma venci.


Nove abraça-me com compaixão
Nove – destino que me acompanha.
Nove mata-me de saudade e de ilusão.
Esse nove que me vem preenchendo o coração


ps: mais um exercicio, este com 5 minutos de duração. Escolher um número e começar cada frase com esse número.

rrrrrggghhaaaaaauuuuuummmmmmnnnhmmmm

Provindo do núcleo mais profundo do mundo, da monstruosidade da terra, rebenta um poderoso e poético grito por demência, por loucura. Um berro tão forte e compacto que até o sentimos nos dentes, a arranhar cada pedaço do nosso ser, a injectar-nos vontade e mais vontade de união e de libertação.

Rasgando a timidez e a solidão, este grito cavernoso entra repentinamente pelo nosso corpo e infecta-nos com sentimentos de amor, de êxtase e de alucinante entrega ao inconsciente.

Ele grita: Mexam-se!!Saltem e gritem, aqui são livres, aqui estão unidos, é aqui que se vive!


ps: mais um devaneio em 10 minutos

23/05/2007

Soneto da devoção

Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.

Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.

Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.

Essa mulher é um mundo! — uma cadela
Talvez... — mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!

Vinicius de Moraes

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Vinícius de Moraes

Solidão

A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.

A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo,o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.

O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se,o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.

Vinicius de Moraes

Soneto da fidelidade

De tudo, ao amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento

Quero vive-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procuro
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem amou

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinícius de Moraes

21/05/2007

Cicatrizes

Rasgo o meu corpo violentamente e caio no chão sem me defender. Estou despedaçado, ferido em todo o corpo, espalhado aleatoriamente pelo asfalto. Fito todas as minhas mazelas com a atenção da mente e com a força do coração. Escorro sangue por todo o corpo, um sangue espesso de um vermelho claro luminoso e invulgar. Vou lambendo as minhas feridas carinhosamente, uma a uma, dedicado e entregue ao meu sofrimento – rastejo no meu sofrer. Ao lamber os assustadores rasgões da minha pele vou provando o seu sabor, o sabor do meu sofrimento, as suas variações ao longo do corpo…vou abraçando a minha dor.
As feridas vão cicatrizando, eu vou renascendo, renascendo verdadeiro.
Agora é o momento.


ps: mais um devaneio de 10 minutos

20/05/2007

gentle media

15/05/2007

Olha para mim

Não me vires as costas
que contigo levas
o mundo em que flutuavam os meus pés

A vida como obra de arte

Quando por alguma razão não posso escrever há sempre uma coisa que me tranquiliza:

Agostinho da Silva -Sê o poema, não o poeta.

-Valeu, velho sábio!

Sorriso meu

Quando a vejo
não sorrio apenas
Ofereço-lhe inconscientemente um sorriso meu

13/05/2007

Ódiemo-nos e amemo-nos!

Vinha do Yoga. Bem disposto, mas atarefado com as minhas novas questões amorosas. A companhia era caríssima, de gestos serenos, harmoniosos e sorriso sincero.
Entrámos no comboio em Cascais. Este só partia daí a dez minutos mas apresentava-se já preenchido de uma generosa heterogeneidade de personagens. A conversa com o Botelho fluía entre desabafos meus e conselhos seus. Mas um conversa de um nível e de uma intimidade que me parecia chocar com o ambiente sóbrio e pesado que nos rodeava.
Foi, então, durante esta desnecessária análise, que reparei num jovem corpulento de cabeça rapada, gestos curtos, rectilineos e expressão facial determinadamente agressiva. Esse jovem como que desafiava um preto que ocupava o seu espaço também com uma clara e afirmativa agressividade de carácter interesseiro. Trocaram olhares! E demoraram-se, nesse momento quase violento. Concluído o confronto inicial o de cabeça rapada não hesitou em ostentar o seu telemóvel, que por sinal, era topo de gama, e iniciar uma conversa, levantando-se e falando, contextualmente de uma forma despudorada. Enfrentava o medo pelo outro e ia alimentando, decidido, o ódio que por ele nutria. O preto fazia questão de não tirar os olhos do outro e mantinha corajosamente uma falsa descontracção e uma atenta indiferença tentando assim também preservar o seu espaço.
Depois saíram em diferentes estações cada um ostentando a sua determinação. Não se cruzaram. Acabou por não acontecer nada.
Depois de ter assistido ao episódio, ainda participando numa elegante conversa, olhei para mim e não consegui de deixar ver beleza naquele momento. Todas aquelas emoções à flor da pele... O ódio assumido! Sim, o ódio...

Tudo aquilo me fez pensar, me fez sentir vivo.

Como é que vão as minhas convicções, as minhas determinações?...

12/05/2007

*****

07/05/2007

uf

A emanação de força surge com espontaneidade, os poderes reunem-se compondo música no meu caminho, Ajo em fé e com força de vontade. É ao mundo que sou fiel. Vôo num univenso traquilo que me leva para mais perto do seu ritmo. Um ritmo rispido e complexo, uma melodia profunda.Por vezes nele mergulho, e sinto-me em estado liquido, como se entrasse no mar e me dissipasse com ele, sentir e abraçar todos os continentes e transformar-me neles todos. Em estado liquido sinto a terra com os meus sentidos , agora aguçados ao ponto de sentir simultaniamente que sinto sinceramente tudo. Toco nele e sinto o seu calor,a energia vinda do seu interior. O mundo está vivo. eu também.

01/05/2007

Fado da ausência

Sei que me quero
Sei que quero ser
Mas não sei quem sou

Falo nisto não porque me sinta indagado
Mas porque alguém me questionou

Abalado
Face a um tom provocador e mesquinho
Lá cedi

Mas tudo isto porque
já lá vai uma semana
e nunca mais a vi