13/05/2007

Ódiemo-nos e amemo-nos!

Vinha do Yoga. Bem disposto, mas atarefado com as minhas novas questões amorosas. A companhia era caríssima, de gestos serenos, harmoniosos e sorriso sincero.
Entrámos no comboio em Cascais. Este só partia daí a dez minutos mas apresentava-se já preenchido de uma generosa heterogeneidade de personagens. A conversa com o Botelho fluía entre desabafos meus e conselhos seus. Mas um conversa de um nível e de uma intimidade que me parecia chocar com o ambiente sóbrio e pesado que nos rodeava.
Foi, então, durante esta desnecessária análise, que reparei num jovem corpulento de cabeça rapada, gestos curtos, rectilineos e expressão facial determinadamente agressiva. Esse jovem como que desafiava um preto que ocupava o seu espaço também com uma clara e afirmativa agressividade de carácter interesseiro. Trocaram olhares! E demoraram-se, nesse momento quase violento. Concluído o confronto inicial o de cabeça rapada não hesitou em ostentar o seu telemóvel, que por sinal, era topo de gama, e iniciar uma conversa, levantando-se e falando, contextualmente de uma forma despudorada. Enfrentava o medo pelo outro e ia alimentando, decidido, o ódio que por ele nutria. O preto fazia questão de não tirar os olhos do outro e mantinha corajosamente uma falsa descontracção e uma atenta indiferença tentando assim também preservar o seu espaço.
Depois saíram em diferentes estações cada um ostentando a sua determinação. Não se cruzaram. Acabou por não acontecer nada.
Depois de ter assistido ao episódio, ainda participando numa elegante conversa, olhei para mim e não consegui de deixar ver beleza naquele momento. Todas aquelas emoções à flor da pele... O ódio assumido! Sim, o ódio...

Tudo aquilo me fez pensar, me fez sentir vivo.

Como é que vão as minhas convicções, as minhas determinações?...

1 Comments:

Blogger Unknown said...

"black guys don't get nervous" - The Fresh Prince of Bel-air

12:35 da manhã  

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