14/07/2007

Solidão antecipada

Vivemos num tempo
em que o amador
se torna a coisa amada
mesmo antes de se amar.
Sendo ela coisa nenhuma
estando ele preso a nada.

11/07/2007

Juntando rascunhos, procurando a poesia

"Somehow the wires have crossed
Communication lost"
Lennon

"Switch it off!"
Política Ambiental

But don't stop there.
Line up the new wires
made of a new material
and switch it on.
Reestablish the real communication.
Reestablish yourself!

10/07/2007

O Delírio da Vontade

O delirio da vontade leva-te a avançar e impulsivamente perdes o conceito de caminho.
Simplesmente estás, mas não sabes em que estado.
Enfrentas tudo e todos pois estás em confronto com uma realidade que não é tua.
Abstrais-te do valor do tocar, do sentir, do cheirar, pois acreditas que o cheiro pode ser dominado, e visto que ele não é tocado podes relativizar e controlar até o infinito.
Vê então se tens coragem e atira-te para o chão.
Tem vontade de cair e aí sabes que estás amparado.

04/07/2007

Privilégio da Vontade_corrida de fim de tarde

Genlife

Vai

Vai caminhando ,vai... e o caminho já existe. Define-o com os teus passos e ilustra-o com a tua presença pois ele precisa de ti. Não pares é de caminhar e não penses quantos passos deste. Planeia apenas quanto queres andar, se quiseres sonhar. Senão pára.
Vai sonhando ,vai... e o sonho já existe. Ilustra-o com os teus passos e define-o com a tua presença pois ele precisa de ti. Só não pares de sonhar e não penses quanto sonhaste. Planeia quanto queres sonhar, se quiseres voar.
Senão pára.

Vai voando ,vai... e o vôo já existe. Ilustra-o com a tua riqueza e define-o com o teu sorriso pois ele precisa de ti. Só não pares de voar e não penses que nunca voaste. Planeia quanto queres voar, se quiseres aterrar.
Senão pára.
E vem outro dia...

02/07/2007

Portas abertas

Ao encostar-me para trás enebriado
lembrei para mim, com alegria,
como este movimento era antes visto
como ilegítimo, inquietante e doloroso.
Desde há muito que não lidava bem com o cansaço.
Não encontrava uma justificação, um lugar para apoiá-lo.
Adiava sempre o momento com medo de ainda não o merecer.
Parecia sentir-me sempre aquém.
Aquém do descanso merecido, aquém da tua compreensão
e tão aquém de tudo o que daí advém.
Lembrei-me de tudo isto enquanto sorria,
me deitava e apoiava por completo em ti.
Estavas sentada com os joelhos cruzados.
Estes amparavam-me a cabeça por baixo
direccionando o meu olhar para cima.
Que era também onde te encontravas,
rindo com ternura.
Estavas até orgulhosa,
percebia-se pela convicção dos teus gestos.
E amavas-me.
A minha palidez e os meus olhos húmidos
não eram por ti vistos como fraqueza,
mas como belos,
na medida em que eram portas abertas por mim, em mim, para ti.
Encantado com os teus olhos,
com aquele teu olhar,
terno e traquinas,
adormeci.
Sabendo, de facto, que iria repousar
sonhando já, meu amor,
em como de manhã te iria recompensar.

O novo Camões, "O profeta do terceiro milénio"

Ao acabar de ler "educação de portugal" do Agostinho Da Silva surgiu-me logo o impulso de reunir os melhores momentos literários. Mas rápidamente me apercebi que era uma tarefa impossível, pois o brilhantismo é, ali, algo ininterrupto. Portanto se o fizesse estaria a empobrecer a obra pois toda ela é sumo.

No entanto não resisto a uma citação:

"Creio, primeiro que o mundo em nada nos melhora, que nascemos estrelas de ímpar brilho, o que quer dizer, por um lado, que nada na vida vale o homem que somos, por outro lado que homem algum pode substituir outro homem. Penso, portanto, que a natureza é bela na medida em que reflecte a nossa beleza, que o amor que temos pelos outros é o amor que temos pelo que neles de nós se reflecte, como o ódio que lhes sintamos é o desagrado por nossas próprias deficiências , e que afinal Deus é grande na medida em que somos grandes nós mesmos: o tempo que vivemos, se for mesquinho, amesquinha o eterno.
E penso, quanto à segunda parte, que todo o homem é diferente de mim, e único no universo; que não sou eu quem sabe o que é melhor para ele, não sou eu que lhe tenho que traçar o caminho; com ele só tenho o direito, que é ao mesmo tempo um dever: o de o ajudar a ser ele próprio; como o dever essencial que tenho comigo é o de ser o que sou, por muito incómodo que tal seja, e tem sido, pra mim mesmo e para os outros. Quanto aos outros, até, e sobretudo, no amor se tem de ter cuidado; gostar dos outros e lhes querer bem tem sido o motivo de muita opressão e de muita morte dos espíritos que vinham para viver; é esta uma das boas intenções de que mais está cheio o inferno; não tens essecialmente de amar nos outros senão a liberdade, a deles e a tua; têm, pelo amor, de deixar de ser escravos, como temos nós, pelo amor, de deixar de sermos donos do escravo."