05/03/2009

Good morning, my beautiful fantasy!

Ao ligar a rádio viro, sem hesitar, o sintonizador para a esquerda. É a Kiss, a M80, ou a romântica que eu procuro. Procuro músicas foleiras que tragam com elas aquela alegria fácil e desapegada, quase patética. Porque há algo de patético em estar feliz e estar ao teu lado.
Digo patético só para que me compreendam, porque de patético nada tem. É uma provocação paradoxal e irónica que me surge porque neste momento nem sequer me passa pela cabeça sustentar o mínimo que seja a integridade de uma qualquer moral, de uma qualquer ideologia ou de um qualquer políticamente correcto. A integridade procuro-a agora na probidade pessoal e na força deste momento, na sua extâsiante verdade. Porque sinto que a vida é de facto minha e a sua energia e o seu poder são-me imanentes, são-me naturais.
Estamos os dois parados na bomba de gasolina a comer um pequeno almoço improvisado, sentados de pernas cruzadas, literalmente em cima do capôt do nosso clássico carro, recentemente emprestado pelo teu avô, e cada um de nós está vestido de uma forma mais arrojada que o outro. Nenhum dos dois cumpre a imagem do estreótipo sexual que seria suposto mas, no entanto, nunca nos sentimos tão sensuais em toda a nossa vida. A aragem é morna e deliciosa e o sol ainda é brando como que a querer propor-nos um bom recomeço. Reparo que o reflexo que faz incidir sobre nós parece tornar-nos reluzentes. Neste mesmo instante passa um pássaro num vôo raso mesmo à nossa frente, não mostrando o mínimo de temor. Isto chama-te à atenção e perguntas, sorridente:
-Para onde é que a gente vai, Pedro?
Ao que eu respondo:
-Não faço a mínima ideia!