Abençoada crise, tia!
A minha tia agregada em Direito ficou perplexa noutro dia quando lhe disse que não aceitar a "incerteza" e o "risco", afamados e polémicos conceitos académicos, era uma fuga à realidade, um sinal de alienação e fraqueza e uma assumida pactuação com a perversa propaganda do medo de hoje em dia.
Digo isto, porque a incerteza e o risco são características da realidade, em si. Atemporal, e não características do nosso tempo. São, primeiro que tudo e mais que tudo, características da condição humana. E neste sentido, abençoadas crises em que vivemos e todas as questões que com elas se elevam e se impõem. Pois, as já referidas ideias de incerteza, risco, precariedade, insegurança são efectivamente bem-vindas. E porquê perguntam vocês.
Exactamente porque são estas ideias, referidas hoje em dia como características sociais do nosso tempo e questões a serem rapidamente anuladas ou rejeitadas, a nossa real situação e circunstância individual desde sempre. É essa a natureza humana e social, o lugar onde todos nascemos, o lugar onde todos fomos deixados, logo, o lugar a partir do qual também todos temos de nos edificar. Porque qualquer outra consciência será uma ilusão e uma alienação, uma pactuação com a perversidade da moral. Sim, toda a moral é perversa. E não há melhor época para perceber isso que aquela em que nos encontramos. Aquela em que, felizmente para todos nós, os defeitos e crimes da moral nos aparecem como evidentes, ao mesmo tempo que nos aparece como evidente também a necessidade e as vantagens de regressarmos novamente ao nosso lugar, por natureza incerto, arriscado, precário e inseguro, e erigirmo-nos como autodidactas que somos, apoiados, finalmente, nas sólidas bases da ética pessoal e não na mediação de uma moral, que já há muito que, a olhos vistos, não nos serve.
É que não existem valores concedidos. Aliás nada que seja concedido existe. Todo o valor, direito, ideia, sentimento ou pessoa só é possuído quando o é por nós maturado, em nós legitimado e por nós devidamente consumado, ou melhor, fecundado. A liberdade, a igualdade, a fraternidade, a democracia, o divino, o amor, a dignidade, a honra e honestidade não existem por si sós. Nem eles nem os seus veículos os fazem por si só existirem: as instituições, a filosofia, a ciência, a religião são estéreis. A todos eles e elas de nada lhes vale e de nada nos valem se não tiverem como referência o indivíduo e todo o seu potencial, se não for daí, do seu âmago, que brotem. De nada lhes vale e de nada nos valem se nos forem transcendentes, aliás nesse caso, não só não nos valem como nos estupidificam, nos alienam, nos incapacitam e nos anulam. Só nos valemos, um e outro lado, se essas instâncias nos forem imanentes. Isto é que sejam por nós criadas e fecundadas.
E tanto a percepção desta oportunidade como a sua real exequibilidade está-nos a ser oferecida de mão beijada nos tempos que correm. Paradoxalmente, estamos a ser pela violência da crise, gentil e generosamente devolvidos e colocados no nosso devido lugar, no nosso centro. Lugar onde liberdade e responsabilidade se unem, lugar onde a moral social decrépita dá lugar à edificação da ética individual.
Mãos à obra!
Digo isto, porque a incerteza e o risco são características da realidade, em si. Atemporal, e não características do nosso tempo. São, primeiro que tudo e mais que tudo, características da condição humana. E neste sentido, abençoadas crises em que vivemos e todas as questões que com elas se elevam e se impõem. Pois, as já referidas ideias de incerteza, risco, precariedade, insegurança são efectivamente bem-vindas. E porquê perguntam vocês.
Exactamente porque são estas ideias, referidas hoje em dia como características sociais do nosso tempo e questões a serem rapidamente anuladas ou rejeitadas, a nossa real situação e circunstância individual desde sempre. É essa a natureza humana e social, o lugar onde todos nascemos, o lugar onde todos fomos deixados, logo, o lugar a partir do qual também todos temos de nos edificar. Porque qualquer outra consciência será uma ilusão e uma alienação, uma pactuação com a perversidade da moral. Sim, toda a moral é perversa. E não há melhor época para perceber isso que aquela em que nos encontramos. Aquela em que, felizmente para todos nós, os defeitos e crimes da moral nos aparecem como evidentes, ao mesmo tempo que nos aparece como evidente também a necessidade e as vantagens de regressarmos novamente ao nosso lugar, por natureza incerto, arriscado, precário e inseguro, e erigirmo-nos como autodidactas que somos, apoiados, finalmente, nas sólidas bases da ética pessoal e não na mediação de uma moral, que já há muito que, a olhos vistos, não nos serve.
É que não existem valores concedidos. Aliás nada que seja concedido existe. Todo o valor, direito, ideia, sentimento ou pessoa só é possuído quando o é por nós maturado, em nós legitimado e por nós devidamente consumado, ou melhor, fecundado. A liberdade, a igualdade, a fraternidade, a democracia, o divino, o amor, a dignidade, a honra e honestidade não existem por si sós. Nem eles nem os seus veículos os fazem por si só existirem: as instituições, a filosofia, a ciência, a religião são estéreis. A todos eles e elas de nada lhes vale e de nada nos valem se não tiverem como referência o indivíduo e todo o seu potencial, se não for daí, do seu âmago, que brotem. De nada lhes vale e de nada nos valem se nos forem transcendentes, aliás nesse caso, não só não nos valem como nos estupidificam, nos alienam, nos incapacitam e nos anulam. Só nos valemos, um e outro lado, se essas instâncias nos forem imanentes. Isto é que sejam por nós criadas e fecundadas.
E tanto a percepção desta oportunidade como a sua real exequibilidade está-nos a ser oferecida de mão beijada nos tempos que correm. Paradoxalmente, estamos a ser pela violência da crise, gentil e generosamente devolvidos e colocados no nosso devido lugar, no nosso centro. Lugar onde liberdade e responsabilidade se unem, lugar onde a moral social decrépita dá lugar à edificação da ética individual.
Mãos à obra!
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