07/01/2009

Façam o pino e abram os olhos!

Pois é!
O mundo está ao contrário. De pernas para o ar, absolutamente! Percebi-o agora, é incrível! Vou passar a explicar como o mundo deveria ser, portanto preparem-se para uma volta de 180º:
Primeiro, a segurança social devia deixar de servir para a reforma, serviria a partir de agora para uma aposentação não na velhice mas sim na infância, A acção da segurança social incidiria ,então, não no topo mas na base da vida. A inversão total! E os fundos desta nova segurança social destinar-se-iam ao desenvolvimento pessoal e único de cada um. Como concordaria Agostinho da Silva teríamos que adulterar o menos possível a criança e deixá-la edificar-se por si mesma apoiada somente na sua poesia. Era um momento privilegiado de crescimento pessoal e espiritual. A criança escolheria as áreas artísticas em que se quereria desenvolver. Ou limitar-se-ia a brincar, actividade nobre e prolífica. A opção era dela. Todo o sistema pedagógico devia investir-se integralmente nesta nova causa: a edificação do indivíduo, a partir da criança, logo natural e livre de traumas e ressentimentos. Jamais algum adulto chegaria à sua idade com saudades de ser criança porque o tinha sido plenamente e assim continuaria. Mais, a criança só depois do seu estágio de liberdade e desenvolvimento pessoal estaria capaz e deveria iniciar, então, de livre vontade a formação que escolhesse. Mas toda a criança seria formada não tendo em conta a sociedade já edificada, não tendo em conta esta como referência mas sim tendo como referência a própria criança, isto é, a essência do homem. Só assim uma sociedade poderá reflectir os indivíduos constituintes, só assim uma sociedade poderá servir o próprio Homem.
Segundo, o serviço público de cada um, o seu trabalho, só depois desta fase surgiria. Com a pessoa já formada, ou melhor, por si formada, pois aqui edificar-se-iam autodidactas, e dadas as condições, as vocações seriam bem conhecidas dos próprios, logo, as funções que cada um escolheria seriam para si as adequadas. E quanto mais adequadas à própria pessoa mais adequadas à própria colectividade pois essas funções motivadas naturalmente pela paixão pessoal seriam consequentemente cumpridas com gosto, brilho e eficiência.
Terceiro, o serviço público prestado pelo Estado, se é que seria necessário Estado nesta nova sociedade, estaria liberto, ou, pelo menos, bastante aliviado da maioria dos seus encargos a este nível. A nível político, e em termos brutos, o trabalho seria pouco certamente porque seria de esperar uma sociedade civil que sabia para onde queria ir e por onde quereria ir. Uma sociedade civil mais capaz, mais forte, mais coesa que erigiria políticas públicas justas, adequadas e prolíficas. Em termos mais concretos, por exemplo ao nível da segurança, também era de esperar que houvesse menos problemas pois as tensões acumuladas por um trabalho que não fosse o adequado à pessoa não existiam ou eram bastante menores. A própria moral de que se reveste o Estado e em particular as forças de autoridade seriam de menor importância porque tinha sido permitido e efectivamente estimulado nas pessoas o desenvolvimento da sua própria ética, logo, as pessoas estariam dotadas de um sentido de resposabilidade muito natural que roçaria certamente o próprio sentido de liberdade. Por exemplo ao nível da saúde os encargos também seriam com toda a certeza menores. Os novos indivíduos conhecendo-se bem e profundamente estariam muito mais habilitados para lidar com todo o tipo de psicossomatismos. E tendo-lhes sido preservada a sua infância, tendo-lhes sido perservado o seu prazer natural pela vida e pelo seu ritmo e natureza provavelmente estariam muito mais atentos ao cuidado da sua saúde porque a valorizariam verdadeiramente. E neste sentido certamente não dispensariam as chamadas medicinas alternativas, pelo contrário, valorizariam-nas exactamente porque estas premeiam a prevenção e manutenção da saúde e não somente a cura da doença já instalada.
Ao longo do texto fui já dando pistas para a finalização da acrobacia, a volta de 180º: a reforma. A reforma deixaria de existir pois as pessoas trabalhando para o que gostavam desgastavam-se muito menos. O trabalho não as enfraquecia, pelo contrário, fortalecia-as, pois nele acontecia a troca mais essencial, de tipo comunitário. O trabalho era uma expressão natural do próprio, vital para o utente, mas também vital para o prestador do serviço. O trabalho fortalecia a sociedade, solidificava os seus laços, pois estes eram forjados em sinceridade. O trabalho mantinha a chama acesa do indivíduo ao mesmo tempo que permitia realizar a sua natureza social. Logo, desta maneira as pessoas provavelmente manter-se-iam capazes até a uma idade bem mais avançada. Desconfio até que se entristeceriam se se vissem forçadas a uma dada altura da sua vida a ter que abandonar o seu trabalho.

Como é que é? Vamos experimentar?