07/01/2009

Não mediação

Poucas vezes materializei a minha arte. Só tardiamente me vi forçado a reinventar o meu mundo. Só tardiamente me vi enclausurado, impedido de ser. Logo, só tardiamente tive contacto com a condição essencial para a vocação de artista: A impossibilidade social de ser.
Até lá era o poema como diria Agostinho da Silva ou a minha arte era a vida como diria Lou Andreas Salomé. O mundo chegava-me, o mundo era generoso e, logo, eu com ele. Não havia grande mediação. Hoje em dia, as dificuldades são maiores mas a mesma atitude teima em sobreviver: Persistente na não mediação. Que se manifesta ou manifestava da seguinte forma:
O dia a dia seria o palco, as discussões ensaios, as conversas a prosa ou a poesia, o falar sozinho o canto, o toque a escultura, a contemplação a pintura, o caminhar a dança, a imaginação e os devaneios poderiam ser o cinema.
Por vezes questiono-me porque sou tão agarrado às artes físicas, o Yôga, o Aikido e porque continua a ser a voz o meu instrumento eleito na música, a par com a flauta que coloco numa fasquia alta também. Outras vezes chego mesmo a questionar-me porque não me sinto mais tentado a tocar um instrumento, a desenhar, a esculpir ou outra coisa qualquer. Artes que não me surgiram naturalmente mas que eu poderia experimentar. Mas esse questionamento normalmente já vem acompanhado de um estado de insegurança característico ou de alguma inveja portanto deixa-me hesitante apesar de eu andar de facto a experimentar uma e outra coisa aqui e ali. Mas tudo isto se deve essencialmente à minha inclinação e persistência pela não mediação. Atitude essa que por não ser tão facilmente "detectada a olho nú" por vezes me deixa inseguro. Lá está!... Mas que obviamente tenho que valorizar.
Ainda ontem estava a passear na minha quinta a descascar à mão uma laranja acompanhado por um camarada canídeo a olhar a paisagem e pensei:
-A arte é uma estupidez, uma consolação para os oprimidos.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

é que é mesmo isso!

spencer

2:58 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home