26/04/2008

Informações que precisam de ficar bem registadas! II

Vamos lá ver se compreendemos o que se passa...

"Opinião: Dias depois do colapso das bolsas mundiais

George Soros: esta é a pior crise dos últimos 60 anos
24.01.2008 - 08h52

A actual crise financeira desencadeada pelo colapso da bolha imobiliária, nos Estados Unidos, marca também o fim de uma era de expansão do crédito assente no dólar como a moeda de reserva internacional.É uma tempestade muito maior do que qualquer outra ocorrida desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Para compreender o que está a acontecer, precisamos de um novo paradigma. Esse paradigma está disponível na teoria da reflectividade que propus pela primeira vez, há 20 anos, no meu livro "The Alchemy of Finance" (A Alquimia dasFinanças). Esta teoria defende que os mercados financeiros não tendem para o equilíbrio. Opiniões tendenciosas e ideias erradas entre cooperadores dos mercados financeiros introduzem incerteza e maior imprevisibilidade não apenas relativamente aos preços do mercado, mas também aos princípios fundamentais que se espera que esses preços reflictam. Entregues a si próprios, os mercados têm tendência para extremos de euforia e de desespero. Na realidade, devido à sua potencial instabilidade, os mercados financeiros não são deixados entregues a si próprios; estão a cargo de autoridades responsáveis cujo trabalho é manter os excessos dentro dos limites. Mas as autoridades também são humanas e sujeitas a opiniões tendenciosas e a ideias erradas, além de que a interacção entre os mercados financeiros e as autoridades que os controlam é também reflexiva.Os ciclos económicos de alto se baixos (boom-bust) giram normalmente em torno do crédito e envolvem sempre um preconceito ou uma ideia errada– normalmente uma falha em reconhecer uma ligação circular reflexiva entre a pronta disponibilidade para emprestar e o valor da garantia. O recente boom imobiliário dos Estados Unidos é um bom pretexto. Mas o super boom dos últimos 60 anos é um caso mais complicado. Cada vez que a expansão do crédito causava problemas, as autoridades financeiras intervinham, injectando liquidez e descobrindo outras formas de estimular a economia. Isso criou um sistema de incentivos assimétricos – também conhecido como perigo moral – que favorecia uma expansão cada vez maior do crédito. O sistema tinha tanto sucesso que as pessoas acabaram por acreditar naquilo a que o ex-Presidente Ronald Reagan chamou “a magia do mercado” e a que eu chamo fundamentalismo do mercado.Os fundamentalistas crêem que os mercados tendem para o equilíbrio e que se serve melhor o interesse comum se se permitir que os participantes ajam em interesse próprio. Isso é um equívoco óbvio, porque foi a intervenção das autoridades que evitou que os mercados financeiros entrassem em colapso, não foram os próprios mercados.No entanto, o fundamentalismo de mercado instalou-se como ideologia dominante nos anos 1980, quando os mercados financeiros começaram a tornar-se globalizados e os Estados Unidos começaram a sofrer um défice de conta-corrente. Desde 1980 que as regulamentações têm vindo progressivamente a afrouxar até que praticamente desapareceram. EUA e a globalizaçãoA globalização permitiu que os Estados Unidos absorvessem as poupanças do resto do mundo e consumissem mais do que aquilo que produziam, com o seu défice de conta-corrente a atingir os 6,2 por cento do PIB em 2006. Os mercados financeiros encorajavam os consumidores a pedir empréstimos introduzindo instrumentos financeiros cada vez mais sofisticados e condições mais generosas. As autoridades financeiras ajudavam e estimulavam o processo intervindo sempre que o sistema financeiro global estava em risco. O "superboom" ficou fora de controlo quando os novos produtos financeiros se tornaram tão complexos que as autoridades financeiras já não conseguiam calcular os riscos e começaram a contar com os métodos de gestão de risco dos próprios bancos. Do mesmo modo, as agências de "rating" contavam com a informação fornecida pelos criadores de produtos sintéticos. Era um abdicar de responsabilidades verdadeiramente chocante. Tudo o que podia correr mal, correu mal. Começou com as hipotecas "subprime" (créditos hipotecários de alto risco), alastrou a todas as obrigações de dívida com garantia, pôs em perigo a mediação de seguros e resseguros municipais e hipotecários e ameaçou destruir o mercado de trocas com um incumprimento de crédito de vários milhões de milhões de dólares. Os compromissos dos bancos de investimento com aquisições alavancadas transformaram-se em passivos. Os fundos de cobertura sem risco acabaram por não ser sem risco e tiveram de ser postos de parte. O mercado do papel comercial coberto por activos estagnou e os meios especiais de investimento estabelecidos por bancos para retirarem as hipotecas dos seus balanços já não conseguiam passar sem financiamento externo.O golpe de misericórdia aconteceu quando o empréstimo interbancário, vital no sistema financeiro, foi interrompido pelo facto de os bancos terem de gerir os seus recursos e não poderem confiarnos seus homólogos. Os bancos centrais tiveram de injectar uma quantia sem precedentes e tiveram de alargar o crédito sobre títulos sem precedentes ao maior leque de instituições de sempre. Isso transformou a crise na mais grave desde a Segunda Guerra Mundial.À expansão do crédito deverá agora seguir-se um período de contracção, porque alguns dos novos instrumentos e práticas do crédito são perversos e insustentáveis. Além disso, a capacidade das autoridades financeiras de estimular a economia está limitada pela falta de vontade do resto do mundo para acumular reservas de dólares adicionais.Até há pouco tempo os investidores esperavam que a Reserva Federal norte-americana fizesse o que fosse necessário para evitar uma recessão, porque foi o que fez em anteriores ocasiões. Agora são obrigados a reconhecer que a Fed pode já não estar em posição de o poder fazer. Com o petróleo, os alimentos e outros bens essenciais semsofrer alteração e o renminbi[moeda chinesa, cuja unidade éo yuan] a valorizar-se um poucomais rapidamente, a Fed tem também de se preocupar com a inflação. Se as taxas de juro fossem diminuídas para além de um certo ponto, o dólar sofria nova pressão e as obrigações de longo prazo teriam de facto maior lucro. É impossível determinar qual é esse ponto, mas quando ele for atingido, chega ao fim a capacidade da Fed de estimular a economia. Embora seja agora mais ou menos inevitável a ocorrência de uma recessão no mundo desenvolvido, a tendência na China, na Índia e em alguns dos países produtores de petróleo é manifestamente oposta. Consequentemente, é mais provável que a actual crise financeira cause um realinhamento radical da economia global do que uma recessão global, vindo a verificar-se um relativo declínio dos Estados Unidos e a ascensão da China e de outros países em vias de desenvolvimento. O perigo é que as tensões políticas daí resultantes, incluindo o proteccionismo norte-americano, possam causar o colapso da economia global e lançar o mundo numa recessão – ou pior.

comentários
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29.01.2008 - 11h42 - Elber Viana de Araújo, Brasil - Rio de Janeiro
George Soros não é um gênio, e sim um raro economista com um bom-senso aguçado e uma visão global econômica, histórica e política. Talvez isso de deva por ter vindo de um condição social inferior e conquistado uma fortuna baseada sem dúvidas em idéias lúcidas e práticas, ao contrário da maioria dos economistas com formação burguesa e educados em escolas com uma influência neoliberal inquestionável, onde se acredita que o dinheiro não vem do trabalho árduo e racional, e sim de títulos podres, investimentos bancários especulativos, agiotagem e trapaças econômicas camufladas de um produto altamente sofisticado a começar pelo nome. O EUA deram corda para sua própria forca ao instituir no resto do mundo a liberização da economia sem intervenção do estado, a globalização das indústrias como se o mundo não houvesse diferenças enormes entre países. Agora vão pagar o preço de suas fábricas estarem na China onde o trabalhador ganha muito mal e trabalha 60h semanais, quero ver se o dono destas fábricas irão distribuir seu estupendo lucro para seus compatriotas sem créditos. Acho que não existe o bem e o mal, e sim a ignorância que assola a humanidade. Se há barbárie e miséria na África, é por que não perceberam que investir em agricultura e energia lá, exigindo democracia e justiça, não é só humanitário, mas muito rentável. Se há muito desemprego e salários baixos, é por quê não taxaram os rôbos que substituiram os humanos nas fábricas. A filosofia econômica atual ignora o ser humano e adora os números. Nós odiamos o ser humano, eles são despesas, gastos e ainda reclamam, os números são "mágicos", não ocupam espaço e nos enchem o bolso ao mesmo tempo!

24.01.2008 - 17h17 - Mancha Negra, Vladivostok
Pelos vistos, infelizmente ainda não é desta que o capitalismo dá o estouro. Mas algum dia há-de ser.

24.01.2008 - 16h20 - Carlos Santos, Lisboa
"Assim, o mercador ou comerciante, movido apenas pelo seu próprio interesse egoísta (self-interest), é levado por uma “mão invisível” a promover algo que nunca fez parte do interesse dele: o bem-estar da sociedade." Esta frase que reflecte a ideia central do liberalismo económico, proferida por Adam Smith, é um tremendo erro e devia ser completamente apagada dos manuais de economia e de história. Os seus seguidores, os neo-liberais (ou Nova Ordem Mundial, como lhes chama o sr. Bush), os que defendem a “magia dos mercados” devem agora ser responsabilizados pelos danos causados e de tudo o que ainda daí advier. Estas políticas são uma tragédia para humanidade e onde quer que se instalem geram miséria, degradação, desesperança, apatia e desespero. Espero sinceramente que não seja tarde demais para que, como refere Soros, "se possa evitar o colapso da economia global e que o mundo caia numa recessão – ou pior”.

24.01.2008 - 14h23 - Joe Machado, Boston, MA - USA
Não podia concordar mais com George Soros. Parece-me, deste lado de cá, que a Fed não vai ter com que intervir muito mais tempo. Por outras palavras, o travão é pequeno para a roda, que está a rodar livre à demasiado tempo. O mito de que o conjunto dos interesses privados, à rédea solta, serve o interesse público, fica assim gravemente ferido. Para os arautos da desgraça europeia, um conselho de quem vê as coisas do lado ocidental do Atlântico: dêem graças a Deus pelo Euro, pelo Banco Central Europeu e pela prudência de Trichet.

24.01.2008 - 10h26 - Fernando Martins, Nantes. França
Eis o que resta da credibilidade da FED : « O choque é mais rude ainda pelo facto dos dirigentes económicos e monetários internacionais terem explicado durante muito tempo que o pior era « pouco provável » . A FED estimava que a factura dos subprimes não deveria ultrapassar os 100 mil milhões de dólares. Doravante, essa factura já representa vários biliões de dólares ». Editorial do Le Monde de 23 de Janeiro de 2008.

24.01.2008 - 09h54 - Fernando Martins, Nantes. França
O que representa uma derrapagem anual do orçamento de 64 mil milhões de dólares para uma economia que se deu ao luxo de derapagens mensais superiores a 66 mil milhões na balança de pagamentos durante todo o ano de 2005 ? Os dirigentes dos Estados-Unidos comportam-se como o Estado-unidense médio : quando um cartão de crédito está esgotado arranja-se mais um pois pensam que haverá sempre alguém para financiar. É importante não esquecer que o défice orçamental programado para 2008 se vem acrescentar à dívida global dos E.U.A.. É engraçado notar as divergências entre a comissão orçamental do Congresso e a Casa Branca, assim como sobre o que se deve ou não incluir nestes números. Em entrevista ao diário francês Libération de 2 de Dezembro de 2007, Pierre Larrouturou apresentava a publicação do seu « Le livre noir du libéralisme » dizendo : « No Japão, nos Estados-Unidos, na Nova Zelândia, na Dinamarca, em Espanha, na Inglaterra, em todos os países que os liberais consideram como modelo, o crescimento manteve-se graças ao endividamento privado. Em 2006, a dívida dos Estados-Unidos, sem incluir o sector financeiro, aumentou 8 vezes mais rapidamente que o P.I.B…. » … « …Esta crise é apenas um começo. Nos E.U.A., a dívida total das famílias, das empresas e das colectividades (sem incluir o sector financeiro) já ultrapassa 230 por cento do P.I.B…. Se acrescentarmos a dívida do sector financeiro, a dívida global dos E.U.A. atinge 340 por cento do P.I.B. ! O que nunca se tinha visto...». Se considerarmos o P.I.B. de 13,802 biliões de dólares em 2006, essas dívidas representam respectivamente 32 e 47 biliões de dólares. Cidadãos dos E.U.A. que apenas contabilizam a evolução da dívida nacional externa (hoje superior a 9 biliões de dólares), calcularam que a mesma aumentou a um ritmo médio de 1430 milhões de dólares por dia desde 29 de Setembro de 2006. Um pouco como se, desde essa data, cada Chinês emprestasse todos os dias 1 dólar aos E.U.A. unicamente para financiar o aumento da dívida externa que estes vão agravando dia após dia. O plano de emergência anunciado esta semana pela Casa Branca representa pouco mais de um trimestre do aumento actual da dívida externa nacional dos E.U.A. e passa apenas por mais reduções de impostos que irão inevitavelmente e matematicamente agravar os défices das contas públicas. Quanto ao « agravamento das despesas com a máquina militar que se encontra no Iraque » a factura financeira já representa qualquer coisa como 2 biliões de dólares. Apostemos em nós, que, de Angola ao Brasil passando por Portugal, apesar das aparências, temos fundamentais económicos e potenciais de crescimento incomparáveis aos dos E.U.A. e doutros modelos liberais anglo-saxónicos.

24.01.2008 - 09h42 - X, Lx
"Os fundamentalistas crêem que os mercados tendem para o equilíbrio e que se serve melhor o interesse comum se se permitir que os participantes ajam em interesse próprio. Isso é um equívoco óbvio, porque foi a intervenção das autoridades que evitou que os mercados financeiros entrassem em colapso, não foram os próprios mercados." E assim se resume o capitalismo selvagem. São os primeiros a quererem açambarcar os lucros, desdenhando o Estado, vêm logo chorar a pedir protecção e intervenção do mesmo quando as coisas correm mal."

Fonte:http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1317545