31/08/2008

Aprender cenas

Foi aí que tudo se estragou. Quando comecei a aprender cenas.
Ou melhor, a ter que aprender cenas.
Como se eu não aprendesse já o suficiente por mim próprio...
Lá reparei, então, que nessas cenas que me impunham que aprendesse, o sabor do sucesso já não era o mesmo que dos tempos de criança.
A culpa recaiu dolorosamente sobre mim, "naturalmente". Pois senti que já não conseguia atingir a mesma alegria, o mesmo amor.
Mas toda essa alegria e esse amor tão naturais e espontâneos até então nada tinham a ver com "sucesso", e a culpa não tinha nada a ver comigo, e obviamente eu não tinha deixado de ser a mesma criança apesar de ter crescido.
O que me aconteceu foi que tive que aprender cenas. Foi apenas e só isso.
Mas cenas que não eram minhas, logo, o sucesso não poderia vir acompanhado daquela alegria e daquele amor pois também ele não me pertencia. Um e outros já não eram a mesma coisa.
Porque não era eu que ali estava, isto é, não era aquele o meu caminho.
Apreender cenas, ser alguém, que raio de obrigações!
Eu já era eu, e em bruto, e em todo o meu esplendor possível!
Mas, pronto, ao parecer-me faltar o amor exterior não acreditei no amor próprio, na minha bússola, e lá aceitei outras direcções, lá me deixei enveredar por outros trilhos.
Perdi-me, é certo, contudo, nunca me abandonei.
Portanto, já que se faz tarde:
-Passa para cá o escalímetro, artista!

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Que grandecissimo steila. Ainda bem que pelo caminho não se perdeu o fio à meada, e um gajo ainda se lembra de onde veio!

10:46 da manhã  

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