27/08/2008

De comboio pela europa ( Capítulo 4)

O resto do tempo que passámos em Hvar foi um bocado marado. Nas tardes íamos passear e mergulhar no fresco mar Croata, passando por belas colinas rochosas e mulheres deslumbrantes. Mas as noites não nos foram queridas. Havia muitas raparigas bonitas, mesmo muitas, mas muita arrogância e frieza no ar, por detrás daqueles rostos de falsa felicidade. Não nos conseguimos adaptar à festa nocturna da ilha e acabávamos as noites cansados e frustrados.
Ainda nos encontrámos com um grupo de tias e tios portugueses de Lisboa de vinte e muitos anos, e passámos uma noite engraçada com eles. Nesse grupo havia uma miúda bonita e divertida que pareceu engraçar comigo mas apesar da minha vontade e de ter falado um bocado com ela ( Luísa, já agora) não me sentia com grande disponibilidade física e mental para tentar realmente. Muito cansado e confuso, e com uma dose de insegurança que também me diminuiu.
Na nossa terceira e última noite em Hvar saímos com o Matts e a Hannah, os nossos vizinhos noruegueses, e soube bem falar com eles. Pessoas inteligentes e humanas que nos trataram com carinho. Conhecemos nessa noite uma croata muito engraçada, cheia de brio e descontraída, que melhorou a nossa opinião sobre tudo aquilo. Falou e falou e continuou a falar e nós ouvimos divertidos.
Hoje acordámos cedo, arrumámos as nossas coisas, deixámos um bilhete na varanda dos nossos amigos noruegueses com sinceras despedidas e contactos electrónicos, e regressámos à estrada. Mais precisamente, ao mar. Que nem Van Weyden e Lobo Larsen! Ah, antes do mar ainda viajámos de autocarro de uma ponta da ilha até à outra pelas verdes e rochosas colinas de Hvar, numa estrada estreitíssima que nos obrigava a parar de cinco em cinco minutos para deixar uma qualquer velha carripana passar a rasar entre o nosso autocarro e o precipício desprotegido. Deu para soltar umas belas gargalhadas enquanto comíamos umas frescas maçãs verdes.
Chegados à outra ponta da ilha parámos num café para comer alguma coisa e saltámos para a proa do gigante ferry que nos trouxe de volta a Split. Quando nos encostámos na parte da frente com as nossas malas largadas no chão, uma corpulenta brisa a esvoaçar pelo corpo e o imenso mar à nossa frente, senti que é ali que me sinto verdadeiramente em casa, no caminho. A viagem é o meu terreno. Duas horas de voo espiritual colados ao mar da Dalmácea, com o sol a torrar-nos o corpo e a música do oceano a acarinhar-nos a alma. A chama reacendeu-se ali. Chegados a Split, com um sorriso rasgado estampado nos lábios, comigo em modo eléctrico, movido por uma energia natural imparável, fomos descobrir que existia um comboio às nove da noite directo para Praga ( eram 3 da tarde). Agradecemos à senhora da estação com palma, largámos as malas na cena das bagagens e seguimos à procura de um restaurante “bom e barato” para almoçar. Durante a procura abandonei a minha adorada mochila, agora decrépita e sem uma aba, e deixei-a junto a uma parede para quem a quiser agarrar. Comprei uma nova (“it’s a good (eastpak) fake!”, disse-me o cigano a quem comprei) e seguimos a com a nossa procura. Perguntei a uma dócil croata que trabalhava numa loja de roupa e ela, depois de uma agradável conversa num inglês arranhado, telefonou a um amigo que estuda inglês e chamou-o para nos ajudar a encontrar o tal restaurante. Cinco minutos depois lá estava ele, pouco sorridente, ao contrario dela. Suponho que só nos fazia aquele favor por amor a ela. Guiou-nos pelas ruas de Split, só ele, até um restaurante de comida mexicana, onde estamos agora. Uma esplanada confortável, comida muito boa a um preço justo, e uma empregada de mesa que me conquistou com o sorriso mais encantador que vi nos últimos tempos. Uma rapariga fabulosa por quem me sinto apaixonado neste preciso momento. Não consigo encontrar um único pormenor nela que não me delicie, completamente extasiado. Olhos rasgados, lábios macios e bem desenhados, cabelo liso castanho claro com uma pequena franjinha alinhada, um humor natural incrível, alegria sincera e contagiante intrínseca em cada movimento, em cada gesto, e um corpo formoso e tão generoso. Nem sei mais o que dizer, alem de “Que magia arrebatadora!”. Apesar desta contemplação platónica não me tratar bem, por não me oferecer mais do que um sonho, a minha vontade é de ficar aqui sentado eternamente a saborear este magnífico milagre da natureza, um verdadeiro poema divino. Ah, e ela trata-me tão bem...
Merda!!!

31/7/2008, Split, Bistro Black Cat