18/08/2008

De comboio pela europa ( Capítulo 3)

A viagem de comboio desde Bled até Split foi, talvez, a melhor das viagens até agora. As pessoas no comboio eram mais parecidas connosco, jovens viajantes á procura de muito, e a paisagem que deixávamos para trás era bela e cativante. Uma croata de nome Matea meteu-se comigo e tivemos um bom tempo a conversar, conhecemos uns escoceses engraçados e até o pica da nossa carruagem era um baixinho com uma atitude castiça que descontraía.
A chegada a Split foi fabulosa. Eu e o Garcia, dentro de uma cabine só nossa, pasmámos o nosso olhar ao ver os prados e montanhas verdejantes a ficarem-se para trás perante o surgimento de um mar imenso, vibrante e cristalino, banhado pelo rejuvenescedor nascer-do-sol. Saímos da cabine e colocámos a cabeça fora da janela do corredor, contemplando toda aquela poesia natural refrescados pela carinhosa corrente de ar puro que nos levantava o escalpe.
De Split apanhámos o ferry boat para Hvar, supostamente a ilha mais bonita e desvairada da costa da Dalmácia. Até agora parece confirmar as expectativas. Mulheres bonitas são quase demasiadas, o mar que banha esta ilha é paradisíaco, e a vida que aqui pulsa é avassaladora. Embora um pouco hollywoodesco, o ambiente de Hvar é tão boémio e diversificado que não é difícil encontrar o nosso espaço por aí. Há muitas opções, muitos estilos e muitas pessoas.
Bem instalados na casa de uma curiosa família croata, num quarto só nosso, começamos finalmente a comprar cenas no supermercado e a cozinhá-las em casa. Temos tido sucesso na função de cozinheiros.
No quarto ao lado está um casal bem simpático de noruegueses da nossa idade, - o Mats e a Hannah.
Ainda nos encontrámos com eles ontem à noite e trocámos umas quantas histórias.
Hoje foi um dia do caralho. Depois do almoço apanhámos um táxi boat até Marinkova, uma ilha perto da nossa onde a “praia” é melhor e menos populada. Meto aspas na praia porque areia não existe, é só pedras. Mas perante o que aquilo é, as pedras são um mero pormenor. Mulheres fabulosas, esplanada de luxo ( e com bom gosto), uma água perfeita em todos os aspectos e uma paisagem inebriante de pequenas ilhas castanho-esverdeadas espalhadas pelo mar. Passámos a tarde entre banhos de sol, mergulhos refrescantes e másculas contemplações humanas! ( eu queria escrever humanas contemplações).
Regressámos ao final da tarde, outra vez de táxi boat claro, mas agora íamos os dois sozinhos deitados na proa, costas a descansar nos vidros da frente do barco. Foi com um sorriso de incrédulo orgulho que nos aproximámos de Hvar e com uma gargalhada sonora saltámos para terra.
Telefonámos finalmente para família e amigos de uma cabine pública de Hvar, junto ao mar. O Garcia ligou ao Rodolfo e à mãe, eu liguei à minha amiga Joana e à minha mãe também. Foram telefonemas rápidos que serviram para avisar que tudo corre tranquilo, mas souberam muito, mas mesmo muito bem. Foi estranho ouvir alguém falar português outra vez, ouvir a nossa língua depois de uma semana soou a um carinho indescritível. Estranho mas bom.

Hvar – 28/7/2008