15/09/2008

Um "Nós" difícil de carregar.

É impressionante como concordo com o livro de Jack D. Forbes. De facto, sinto mesmo que o afastamento da Natureza e a ideia do pecado original, visto como questão basilar do Cristianismo, são duas razões essenciais da perdição da cultura ocidental...

Ao afastar-se da Natureza o homem afasta-se da sua própria natureza, isto é, de si próprio. É como se, aos nossos olhos, renegássemos, logo no momento do nascimento, os nossos pais e os nossos mestres, reflexos de nós mesmos e de todo o mundo. Vai-se fragilizando, assim, então, o homem, devido ao distanciamento de si próprio, e a sua visão que se vai tornado cada vez mais turva. Perde, então, progressivamente fé em si mesmo. Fragmenta-se depois, pois começa a não acreditar na sua totalidade nem na integração desta no mundo em que vive. Ao fragmentar-se, fragmenta-se também a sua perspectiva da realidade. Nasce assim o projecto iluminista e os seus múltiplos conceitos, fragmentados e fracturantes: Homem social e Homem Total, Bem e Mal, e outros. Muitos... Está criado o terreno para a institucionalização e comercialização, para a transformação em produto de tudo e mais alguma coisa (das sociedades, como as entendemos, hoje). Incluindo de Deus e de nós próprios. Pois estas são já partes de um todo desconhecido, proibido, transcendente. Também os próprios valores passam a existir separadamente de nós próprios. A liberdade, a igualdade, a espiritualidade e a fraternidade são símbolos que compramos por pertencer a um grupo social ou país. Não interessa se, de facto, somos livres, iguais, fraternos ou espirituais. O simples facto de pertencermos a um país que tem esses valores ou estarmos associados a um grupo social que os usa como bandeiras já nos consola e satisfaz. Aliás fragmentados, carentes e desorientados como estamos já não acreditamos chegar lá pelo nosso próprio pé, a partir do nosso próprio caminho. Que o que desejamos tenha a expressão e a qualidade de transcendente(e não de imanente), pois é essa também já a qualidade do nosso próprio desejo.

Um "Nós" difícil de carregar.
Nasce a necessidade de criar
para talvez,
um dia,
Ser.