O pequeno Vicente no Festival de Sagres
Estou perdido numa enorme multidão. Sinto-me tão pequeno. Não percebo nada do que as pessoas dizem. Nem elas próprias parecem perceber pois constantemente berram, mesmo estando umas ao lado das outras. Será que falam a mesma língua? Há foguetes no ar e uma banda a tocar mas não vejo qualquer alegria. É estranho, o ambiente começa a parecer-me tenso e assustador. Reparo que as pessoas se tocam. É... Eu também me sinto sozinho. Apetece-me abraçar alguém. Mas ao fazê-lo empurram-me e olham-me com as sobrancelhas marcadamente levantadas e bocas gigantes de espanto e repugnância. Experimento gritar, contudo é óbvio que ninguém me ouve, todos gritam também. Desato a chorar, já sem nada esperar, sem nada pedir e as pessoas ainda por cima afastam-se. Afastam-se com medo, desamparadas. Acho que vou correr, tenho que fugir daqui. Tudo isto é tão feio e assustador. Vou correr de olhos fechados. Vou correr de olhos fechados para sempre!
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