11/09/2008

De comboio pela europa ( Capítulo 5)

Cá estamos nós sobre carris outra vez.
Quando entrámos no comboio em Split, cidade por onde ainda devemos passar, tínhamos pela frente nada mais que 23 horas até Praga. Há uns meses eu ficaria assustado perante esta notícia. Hoje sorrio. Quanto mais horas melhor, é o que sinto.
Durante esta viagem já bebi um litro de cerveja checa por 2€, conheci um grupo de três irlandeses e uma simpática irlandesa, ouvi boa música no meu deficiente mp3, li as aventuras do meu colega Jack Kerouac pela estrada fora, ri-me descontroladamente com o Garcia com piadas atrás de palhaçadas durante as primeiras horas de viagem, vi a nossa cabine a ser invadida por duas inglesas ( um delas ostentava uma voluptuosa côdea) que nos obrigaram a tentar dormir sentados, fui acordado às 4 da manhã pelo Garcia a avisar-me que elas tinham bazado e podíamos voltar a dormir descansados, acordaram-me bruscamente às 8.30 da manhã com gritos de aviso “Croatian Passport Control!!!”, conseguimos filmar o processo seo o policia se aperceber, vagueei sozinho pelas carruagens com a cabeça lançada para a paisagem, comi uma salsicha de Frankfurt oferecida pelos irlandeses para pequeno almoço, um dos irlandeses deixou-me enviar uma mensagem ao Rodolfo para poder comunicar os pormenores da nossa chegada, e...sei lá o que fiz mais. Usufrui, acima de tudo.
Suponho que sejam umas 10 da manhã agora. O Garcia dorme enrodilhado na cabine. Eu vim para uma vazia para não o incomodar com a cantoria e com o tabaco. Hoje às oito da noite chegamos ao nosso destino checo: Praga. O Rodolfo está lá, a Elvia também, o Botelho também deve estar e o Tomás poderá surgir por detrás de uns arbustos a qualquer altura com o seu aspecto aborígene com um ipod na mão direita a destoar e a gritar “Foquinha, foquinha!!!”. Sim, eu sou a foquinha para o Tomás. Vai ser engraçado encontrar o pessoal todo cá fora, do nada. Todo não, quase todo. Falta o nosso ameigo França!
Mas, resumindo, eu e o meu companheiro de viagem aguardamos curiosos pelo momento em que os nosso amigos nos vão aparecer à frente, numa rua qualquer da República Checa com um nome estranho do género Svelkoniz pro baterni, com aquelas caras tão familiares e com as suas vozes portuguesas a ecoar estranhamente pela nossa alma. Entretanto continuo a saborear a viagem neste velho comboio, por entre estações abandonadas, fotografias verdes e amarelas, com o sol a bater na janela e o vento a bater no rosto.

1/8/2008, Algures entre a Croácia e a Eslovénia, no comboio.