04/09/2008

Inversão de marcha

Desenvolvendo a questão: há aquela velha história de que Nietzsche ficou louco naquele, para mim, belo episódio em que ao ver um cavalo a ser chicoteado se abraça a ele de forma a protegê-lo, envolto em lágrimas. Mas Nietzsche, ele próprio, não era louco, obviamente. Isto é, ninguém tem o desígnio de ser louco, porra! Digo mais. Ninguém tem o "desígnio" de ser louco, incapaz, deprimido, ansioso ou solitário. As sociedades é que enlouquecem as pessoas, corrompendo o que de mais essencial nelas existe. É importante situar bem o problema.
Vamos lá, quero ver toda a gente a largar a sua culpabilidade. O vagabundo a ocupar, com naturalidade, uma casa vazia nas encostas da Azóia. O desempregado, de cabeça levantada, engendrando uma forma de assaltar na noite seguinte a empresa que o despediu, o deprimido, parando de se ver como um inadaptado incapaz e virando humorista, ao mesmo tempo que exige o pagamento integral dos seus anti-depressivos e da sua psicoterapia, quero ver o ansioso de t-shirt bem suada recusando-se a usar desodorizante cada vez que se reúne com os seus professores ou patrões, quero ver o solitário e tímido numa pose confiante, estilosa mesmo, a exigir a legalização da prostituição e a inscrição desta nos deveres públicos com o estatuto de serviço social.
Parece bem, ou quê?