De comboio pela europa ( Capítulo 6)
Chegados a Praga ao final da tarde, artilhados com os malões que já fazem parte do nosso andar, lançámo-nos à descoberta do Hostel que o Rodolfo nos arranjou.
Apanhar o metro, trocar de linha, uma ou duas estações, 500 metros a pé, e lá entrámos. Foi a chegada mais facilitada até ao momento.
Instalámo-nos no quarto 316 do gigante albergue de estudantes e passageiros, descobrimos o número do quarto deles (já sabíamos que o Botelho também lá estava) e demos 3 pancadas na porta. Abraços e risadas, olhos abertos e incrédulos – um reencontro bacano.
Pouco depois já saíamos pela porta do Hostel os quatro. Sentámo-nos numa esplanada de madeira escura meio campestre com umas canecas Pislner fresquinhas à nossa frente. Aí principiámos a sessão de “Information Exchange”. Hum, agora que me lembro melhor, nós nessa noite não ficámos na esplanada mas na parte de dentro do restaurante. Não interessa, vai dar ao mesmo. Sentámo-nos, e o Botelho tomou as rédeas da conversa. Relatou com grande habilidade a história do seu caminho e prendeu-nos pela naturalidade e vivacidade com que nos contou as suas aventuras por Varsóvia, Paris e por uma terrinha ocupada por hippies situada na fronteira entre a Polónia e a Ucrânia, onde se encontrou com a prima. Sempre com uma saborosa caneca na mão e um cigarro nos lábios, eu e o Garcia íamos recebendo tudo aquilo com ternura. A conversa continuou seguindo o trilho do Rodolfo, que confessou a sua recente paixão por Berlim depois de três dias mornos em Amesterdão. Falou das pessoas, da incrível beleza e energia da cidade, e deixou-nos aos três com a “obrigação” de lá passar um dia.
Durante o jantar, nesse mesmo sítio, eu e o Garcia fomos partilhando as nossas experiências enquanto todos dividíamos dois ou três deliciosos pratos no centro da mesa. Dou especial destaque à velocidade com que eu e o imediato Garcia devorámos tudo o que nos aparecia à frente (eu, por exemplo, nas 23 horas de comboio só comi uma tigela de Goulash – uns 6 cubinhos de carne regados com um bom molho – estávamos esfomeados.).
Deixámos o restaurante já contentinhos e dirigimo-nos a um bar de reggae e funk. A nossa querida Elvia foi lá ter, e espalhou todo o seu charme e carinho com um doce e sublime “Olá!!”. Já não via aquele sorriso há quase dois meses, foi fabuloso.
O resto da noite foi feito com algumas cervejas, muitas conversas, mais intimidade e partilha, e uma boa quantidade de funk na pista, com o Garcia e o Rodolfo numa acesa competição pelo troféu de “dança de maior destaque” da noite.
O dia seguinte fez-se de passeios pelo centro da cidade, diferentes refeições no mesmo restaurante (valia a pena), e ao final da tarde, antes de voltarmos a atacar mais umas Pilsner, enquanto a Elvia desenhava sentada num banco de jardim e o Rodolfo e o Botelho manjavam as suas mini refeições à GOE, surgiu um momento decisivo na nossa viagem.
O Garcia e eu discutíamos os nossos próximos passos, quando e para onde íamos a seguir, e depois desse sítio o que se seguiria, etc. Até que, depois de umas quantas hipóteses em que não chegávamos a um consenso, sem conseguir encontrar uma solução que desse para os dois, mergulhámos num demorado silêncio meditativo. Julgo que ambos sabíamos o que ia acontecer, mas estávamos os dois, cada um a pensar para si, fitando o vazio, a tentar descobrir se havia outra saída. Acabei por encolher os ombros e interiorizar confiante: “Vai saber muito bem”. E fiquei á espera que o meu grande companheiro de viagem fosse o primeiro a sugerir o inevitável.
“Se calhar vamos ter que nos separar” desabafou segundos depois, com um sorriso embaraçado.
“Parece que sim ameigo”, respondi de pronto, a pulsar de emoção. Soltámos uma pequena risada e demos o assunto por encerrado. Partíamos no dia seguinte ( Domingo, dia 3) para Cracóvia e aí passaríamos as nossas duas últimas noites como parceiros nesta viagem. Depois disso, cada um seguiria o seu próprio caminho. Ele inclinava-se para aproveitar a derradeira parte destes dias em Berlim; eu seguiria para Guca, na Sérvia, curtir o festival de música balcânica, e compraria o bilhete de avião a partir no dia 13 em Munique com destino à nossa bonita Lisboa.
Depois desta decisão os nossos corpos foram invadidos por um turbilhão de sentimentos poderosos, nos quais se revelavam mais fortes o desejo de abraçar a solidão e o nervoso causado pelo receio do incógnito.
Seguimos para o restaurante do costume, agora na esplanada, e, movido pela adrenalina que o novo trilho me injectava, decidi pagar umas rodadas aos amigos. Os cinco a beber animados, a falar e a gozar uns com os outros, e eu e o Garcia acompanhados de perto por uma estranha sombra.
A noite foi marcada por longas caminhadas; uma fugaz passagem por uma discoteca marada preenchida por vietnamitas, muçulmanos, um ucraniano, nós os 5 e, claro, um ou outro grupinho de bifes bêbados; (Ah, houve também uma multa nojenta de 35€ no metro para mim); e as madrugadoras e rápidas despedidas dos nossos três amigos. A Elvia num eléctrico a acenar de olhos semi-cerrados, o Rodolfo e o Botelho com uma “bolacha” (cheeseburger) na mão, preparados para apanhar o comboio das 5 e tal para Viena. Foi assim que os deixámos.
Recordo estes momentos a três horas e meia de distância de Praga, acabado de almoçar aqui no comboio, ao lado do meu amigo. Daqui a poucas horas vamos estar a abraçar o Ricardo Garcia em Cracóvia, e depois é cada um para o seu lado. E que lados mais mirabolantes se adivinham.
Não desesperes, querida solidão.
Já estou a caminho.
3/8/2008, entre a República Checa e a Polónia, no comboio.
Apanhar o metro, trocar de linha, uma ou duas estações, 500 metros a pé, e lá entrámos. Foi a chegada mais facilitada até ao momento.
Instalámo-nos no quarto 316 do gigante albergue de estudantes e passageiros, descobrimos o número do quarto deles (já sabíamos que o Botelho também lá estava) e demos 3 pancadas na porta. Abraços e risadas, olhos abertos e incrédulos – um reencontro bacano.
Pouco depois já saíamos pela porta do Hostel os quatro. Sentámo-nos numa esplanada de madeira escura meio campestre com umas canecas Pislner fresquinhas à nossa frente. Aí principiámos a sessão de “Information Exchange”. Hum, agora que me lembro melhor, nós nessa noite não ficámos na esplanada mas na parte de dentro do restaurante. Não interessa, vai dar ao mesmo. Sentámo-nos, e o Botelho tomou as rédeas da conversa. Relatou com grande habilidade a história do seu caminho e prendeu-nos pela naturalidade e vivacidade com que nos contou as suas aventuras por Varsóvia, Paris e por uma terrinha ocupada por hippies situada na fronteira entre a Polónia e a Ucrânia, onde se encontrou com a prima. Sempre com uma saborosa caneca na mão e um cigarro nos lábios, eu e o Garcia íamos recebendo tudo aquilo com ternura. A conversa continuou seguindo o trilho do Rodolfo, que confessou a sua recente paixão por Berlim depois de três dias mornos em Amesterdão. Falou das pessoas, da incrível beleza e energia da cidade, e deixou-nos aos três com a “obrigação” de lá passar um dia.
Durante o jantar, nesse mesmo sítio, eu e o Garcia fomos partilhando as nossas experiências enquanto todos dividíamos dois ou três deliciosos pratos no centro da mesa. Dou especial destaque à velocidade com que eu e o imediato Garcia devorámos tudo o que nos aparecia à frente (eu, por exemplo, nas 23 horas de comboio só comi uma tigela de Goulash – uns 6 cubinhos de carne regados com um bom molho – estávamos esfomeados.).
Deixámos o restaurante já contentinhos e dirigimo-nos a um bar de reggae e funk. A nossa querida Elvia foi lá ter, e espalhou todo o seu charme e carinho com um doce e sublime “Olá!!”. Já não via aquele sorriso há quase dois meses, foi fabuloso.
O resto da noite foi feito com algumas cervejas, muitas conversas, mais intimidade e partilha, e uma boa quantidade de funk na pista, com o Garcia e o Rodolfo numa acesa competição pelo troféu de “dança de maior destaque” da noite.
O dia seguinte fez-se de passeios pelo centro da cidade, diferentes refeições no mesmo restaurante (valia a pena), e ao final da tarde, antes de voltarmos a atacar mais umas Pilsner, enquanto a Elvia desenhava sentada num banco de jardim e o Rodolfo e o Botelho manjavam as suas mini refeições à GOE, surgiu um momento decisivo na nossa viagem.
O Garcia e eu discutíamos os nossos próximos passos, quando e para onde íamos a seguir, e depois desse sítio o que se seguiria, etc. Até que, depois de umas quantas hipóteses em que não chegávamos a um consenso, sem conseguir encontrar uma solução que desse para os dois, mergulhámos num demorado silêncio meditativo. Julgo que ambos sabíamos o que ia acontecer, mas estávamos os dois, cada um a pensar para si, fitando o vazio, a tentar descobrir se havia outra saída. Acabei por encolher os ombros e interiorizar confiante: “Vai saber muito bem”. E fiquei á espera que o meu grande companheiro de viagem fosse o primeiro a sugerir o inevitável.
“Se calhar vamos ter que nos separar” desabafou segundos depois, com um sorriso embaraçado.
“Parece que sim ameigo”, respondi de pronto, a pulsar de emoção. Soltámos uma pequena risada e demos o assunto por encerrado. Partíamos no dia seguinte ( Domingo, dia 3) para Cracóvia e aí passaríamos as nossas duas últimas noites como parceiros nesta viagem. Depois disso, cada um seguiria o seu próprio caminho. Ele inclinava-se para aproveitar a derradeira parte destes dias em Berlim; eu seguiria para Guca, na Sérvia, curtir o festival de música balcânica, e compraria o bilhete de avião a partir no dia 13 em Munique com destino à nossa bonita Lisboa.
Depois desta decisão os nossos corpos foram invadidos por um turbilhão de sentimentos poderosos, nos quais se revelavam mais fortes o desejo de abraçar a solidão e o nervoso causado pelo receio do incógnito.
Seguimos para o restaurante do costume, agora na esplanada, e, movido pela adrenalina que o novo trilho me injectava, decidi pagar umas rodadas aos amigos. Os cinco a beber animados, a falar e a gozar uns com os outros, e eu e o Garcia acompanhados de perto por uma estranha sombra.
A noite foi marcada por longas caminhadas; uma fugaz passagem por uma discoteca marada preenchida por vietnamitas, muçulmanos, um ucraniano, nós os 5 e, claro, um ou outro grupinho de bifes bêbados; (Ah, houve também uma multa nojenta de 35€ no metro para mim); e as madrugadoras e rápidas despedidas dos nossos três amigos. A Elvia num eléctrico a acenar de olhos semi-cerrados, o Rodolfo e o Botelho com uma “bolacha” (cheeseburger) na mão, preparados para apanhar o comboio das 5 e tal para Viena. Foi assim que os deixámos.
Recordo estes momentos a três horas e meia de distância de Praga, acabado de almoçar aqui no comboio, ao lado do meu amigo. Daqui a poucas horas vamos estar a abraçar o Ricardo Garcia em Cracóvia, e depois é cada um para o seu lado. E que lados mais mirabolantes se adivinham.
Não desesperes, querida solidão.
Já estou a caminho.
3/8/2008, entre a República Checa e a Polónia, no comboio.
2 Comments:
as palavras nunca farao justica caro amigo...
carinhos eternos.Teremos sempre praga.
Para o ano, e os seguintes, irei eu atras de cada um de voces.
Tesouros (lamechice absoluta) (estou longe outra vez..fazem-me falta)
Também nos fazes tanta falta minina...Mas estás a cumprir o teu caminho, e isso é o que mais importa. :)
Enviar um comentário
<< Home