Procuro-me
Pego na pá e começo.
Começo a escavar.
Não sei se lá chegarei mas a vontade é cega.
A pá é pesada e isso agrada-me.
Escavo, escavo e escavo.
E vejo-me na sala de aula do 6º ano. Elege-se o delegado de turma e eu sedento por ser o escolhido.
Não é isto que eu quero.
Continuo a escavar.
Continuo.
E mais uma vez eu apareço. Estou a receber o diploma do mais colono na ACAJ. E é o Kiko quem me o entrega. Há muito barulho. Muita pressão. Sinto-me mal...
Pego novamente na pá.
Olha, agora estou no liceu, sentado. Diz-me a Élvia, que tenho muitas raparigas que gostam de mim. E eu apenas sorrio. Não denuncio qualquer escolha. Tento apenas preservar-me.
Cuspo para o lado e escavo mais ainda.
Mais, tem que ser mais!
Vejo-me no quarto a estudar para passar nos exames do 2º 12º ano. Estou pálido e já lá vão três horas seguidas.
Continuo, já suo e arfo agressivamente.
Acelero o ritmo ansioso e oiço a voz do meu pai.
Conta mais uma das suas façanhas.
Não quero ouvir.
Escavo para o lado fugindo mas ainda o oiço a ordenar-me a execução de uma qualquer tarefa caseira.
Mando-o à merda!
E escavo, escavo, escavo, escavo.
Dei um encontrão em alguém.
-Desculpa lá
sai-me automaticamente.
Está de costas, essa pessoa, na cozinha da minha casa.
Aos poucos, apercebo-me que é a minha mãe.
-Desculpa mãe
não me responde...
A tristeza é de uma natureza que coíbe a agressividade.
Contenho-me na sua presença.
Mas continuo.
E agora continuo já com ódio.
Descoordenam-se os movimentos bruscos
e com a pá faço um golpe na cabeça.
O sangue escorre e isso agrada-me.
Lambo o sangue.
Continuo...
Agora encontro-me com os meus amigos. Estou eu a falar. Mas falo dos problemas deles. Ou quando falo dos meus é como vítima.
Que solidão!
Não é isto que eu quero ver, caralho!
Pego mais uma vez na pá, não consigo descansar.
Olha agora os meus irmãos.
Deixam passar-lhes ao lado, a minha alegria. E riem-se não sei bem de quê.
Caguei para eles.
Continuo, continuo e continuo.
Escavo, escavo e escavo!
Até que finalmente consigo chorar.
Finalmente!
Choro abundante e livremente.
Lágrimas gordas que refrescam a cara e acordam os sentidos.
Encosto-me à parede do túnel, sentado, e abraço os joelhos.
Que alívio, que sentimento libertador.
Demoro-me no prazer. E tento com ele aprender...
Está escuro, não vejo nada, mas sinto-me bem até.
Estou sozinho...
Decido levantar-me. E espontâneamente escolho um caminho diferente do que parecia que estava planeado.
Sigo esse caminho.
Não sinto o cansaço.
Corre-me uma adrenalina desenfreada pelo corpo.
Quase que lhe sinto o gosto.
Parece-me deliciosa.
Continuo e.....
Começo a ver pequenos raios de luz a espreitar pela terra.
Tenho medo, paro de escavar.
Olho por entre um dos buracos e vejo-me, novamente.
Sorrio. Mas o meu sorriso é diferente. É meu. Pareço feliz.
Desvio o olhar do buraco.
Tenho medo.
Os outros estão muito longe daqui.
Estou completamente sozinho.
Foda-se! Tenho medo.
Olho novamente pelo buraco e,
Trim, trim, trim!!!!
Toca o despertador.
Começo a escavar.
Não sei se lá chegarei mas a vontade é cega.
A pá é pesada e isso agrada-me.
Escavo, escavo e escavo.
E vejo-me na sala de aula do 6º ano. Elege-se o delegado de turma e eu sedento por ser o escolhido.
Não é isto que eu quero.
Continuo a escavar.
Continuo.
E mais uma vez eu apareço. Estou a receber o diploma do mais colono na ACAJ. E é o Kiko quem me o entrega. Há muito barulho. Muita pressão. Sinto-me mal...
Pego novamente na pá.
Olha, agora estou no liceu, sentado. Diz-me a Élvia, que tenho muitas raparigas que gostam de mim. E eu apenas sorrio. Não denuncio qualquer escolha. Tento apenas preservar-me.
Cuspo para o lado e escavo mais ainda.
Mais, tem que ser mais!
Vejo-me no quarto a estudar para passar nos exames do 2º 12º ano. Estou pálido e já lá vão três horas seguidas.
Continuo, já suo e arfo agressivamente.
Acelero o ritmo ansioso e oiço a voz do meu pai.
Conta mais uma das suas façanhas.
Não quero ouvir.
Escavo para o lado fugindo mas ainda o oiço a ordenar-me a execução de uma qualquer tarefa caseira.
Mando-o à merda!
E escavo, escavo, escavo, escavo.
Dei um encontrão em alguém.
-Desculpa lá
sai-me automaticamente.
Está de costas, essa pessoa, na cozinha da minha casa.
Aos poucos, apercebo-me que é a minha mãe.
-Desculpa mãe
não me responde...
A tristeza é de uma natureza que coíbe a agressividade.
Contenho-me na sua presença.
Mas continuo.
E agora continuo já com ódio.
Descoordenam-se os movimentos bruscos
e com a pá faço um golpe na cabeça.
O sangue escorre e isso agrada-me.
Lambo o sangue.
Continuo...
Agora encontro-me com os meus amigos. Estou eu a falar. Mas falo dos problemas deles. Ou quando falo dos meus é como vítima.
Que solidão!
Não é isto que eu quero ver, caralho!
Pego mais uma vez na pá, não consigo descansar.
Olha agora os meus irmãos.
Deixam passar-lhes ao lado, a minha alegria. E riem-se não sei bem de quê.
Caguei para eles.
Continuo, continuo e continuo.
Escavo, escavo e escavo!
Até que finalmente consigo chorar.
Finalmente!
Choro abundante e livremente.
Lágrimas gordas que refrescam a cara e acordam os sentidos.
Encosto-me à parede do túnel, sentado, e abraço os joelhos.
Que alívio, que sentimento libertador.
Demoro-me no prazer. E tento com ele aprender...
Está escuro, não vejo nada, mas sinto-me bem até.
Estou sozinho...
Decido levantar-me. E espontâneamente escolho um caminho diferente do que parecia que estava planeado.
Sigo esse caminho.
Não sinto o cansaço.
Corre-me uma adrenalina desenfreada pelo corpo.
Quase que lhe sinto o gosto.
Parece-me deliciosa.
Continuo e.....
Começo a ver pequenos raios de luz a espreitar pela terra.
Tenho medo, paro de escavar.
Olho por entre um dos buracos e vejo-me, novamente.
Sorrio. Mas o meu sorriso é diferente. É meu. Pareço feliz.
Desvio o olhar do buraco.
Tenho medo.
Os outros estão muito longe daqui.
Estou completamente sozinho.
Foda-se! Tenho medo.
Olho novamente pelo buraco e,
Trim, trim, trim!!!!
Toca o despertador.
4 Comments:
teila!
Gostei mt da ideia, bela escavação!
ah, e quando quiseres falar dos teus problemas não te preocupes, vou tentar retirar o rótulo de vítima dos teus ombros.
E porquê?, perguntas tu.
Porque eu sou o melhor do mundo a tirar o rótulo de vítima dos ombros dos amigos.
assinado: o melhor em tudo
não há vítimas quando se fala de problemas entre amigos. quando se fala de problemas entre amigos, surgem dois tipos de personagens, como nas histórias.
e tu és a personagem principal.
(para além disso, tens a sorte de ter um amigo que, sendo o melhor em tudo, é obviamente o melhor a tirar o rótulo de vítima dos ombros amigos. o que é que queres mais?)
assinado: a melhor só em algumas coisas
são ritmos...
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