11/11/2007

Quis viver

Abro a porta da cozinha que dá para o jardim.
A noite é já madura,
e tudo está estranhamente calmo e sereno.
Tudo parece oferecer-se.
Sento-me na cadeira e acendo um cigarro.
Trago em mim, ainda quente, um livro que me encantou.
Um livro dum índio.
Um livro com a visão de um índio.
Trago, em mim, também, ainda muito prazer.
É uma noite de princípios de Setembro e as férias correram bem.
Sinto-me bem em mim.
Levanto lentamente a cabeça.
Olho em redor e é como que se a cumplicidade me atordoasse.
Como quando vejo uma mulher,
uma mulher bela de mais...
E falo da minha beleza, não de uma outra qualquer.
Olho em redor e tudo me toca, tudo me fala.
Tudo me chama...

Sinto, então, nesse momento, que posso morrer.
Não sei porquê mas senti que não haveria qualquer problema.
Não.
Mais. Mais que isso.
Senti que, de facto, queria morrer!
E queria.
Queria responder ao que me chamava.
Queria-me entregar. Mas entregar-me de olhos fechados.
Então como que comecei a ensaiar,
a ensaiar percorrer os negros caminhos de tal desejo.
Mas a caminhada revelou-se de outra natureza.
Eram ténues as diferenças
e o paradoxo evidente.
Estava completemente enganado.
Não havia nada de mórbido.
O que havia era aquietamento.
E um aquietamento extremamente sedutor, leve e elegante.
E um desejo, um desejo forte e profundíssimo
de eu finalmente me deixar levar
e me entregar
a mim e ao vento que iam a passar.

2 Comments:

Blogger Arnaldo Icaro said...

e quiseste viver.
Cá para mim foi uma boa escolha :P

outro texto mt bom garceila, andas a exprimir-te muito bem e com uma escrita envolvente.

9:50 da tarde  
Blogger Elvia Vasconcelos said...

envolvente sem dúvida, até a mim me apeteceu deixar levar por esse vento...

9:58 da tarde  

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