18/01/2011

Tese de mestrado de Pedro G.

Ora minha boa gente vou tentar, então, explicar muito sucintamente o que é que o Pedro G. anda a fazer para a sua tese de mestrado.
Acontece que as questões de avaliar e contabilizar a performance económica, o progresso social e o bem-estar estão na ordem do dia:

Dum lado temos o imperioso Governo de sua Majestade inglesa e o Governo escocês, entre muitas outras organizações associadas, a financiarem um programa de três anos (Início em Novembro de 2008 - Aplicação de investigação experimental em Inglaterra) com o intuito de desenvolverem um indicador, e uma base de dados que o suporte, que seja capaz de captar e demonstrar o valor social e ambiental do investimento. Esse rapazito chama-se SROI. Quando se fala no valor social e ambiental do investimento fala-se principalmente nos bens e nos capitais que não têm valor monetário ou de mercado e que por isso mesmo muitas vezes são ignorados.

Do outro lado temos a romântica e petulante República Francesa que pela mão do seu grande Presidente decidiu criar uma Comissão que procurasse desenvolver a medida da performance económica e do progresso social. E não teve meias medidas e convidou para coordenar as tropas o Stiglitz, o Amartya Sen, dois prémios-nobel da economia e o cientista político francês Jean-Paul Fitoussi. Um dos seus objectivos principais é identificar as limitações actuais e desenvolver as novas potencialidades do velho GDP ou PIB (Gross domestic product ou Produto interno Bruto). No entanto, não se ficam por aí e também ousam desenvolver novos indicadores que possam melhor captar e demonstrar, pelas suas palavras, o desenvolvimento sustentável, as questões amvientais e a qualidade de vida. (Início a 22 de abril de 2008 - Aplicação de investigação experimental em França e EUA)

Isto é produto do mais fresco que anda aqui por estes lados ocidentais e Pedro Garcia soube farejá-lo com uma grande ajuda do seu irmão Ricardo que prima por se fazer acompanhar do seu "Le Monde" ;)
Ora é sobre esta base que a minha tese vai nascer. E vai continuar talvez no sentido de aprofundar os indicadores que pretendem materializar e monetarizam o valor económico, social ou ambiental que não têm expressão de mercado. Se assim for a melhor cobaia será o SROI.

Vendo de fora, pode parecer que estas movimentações não têm grande interesse. Mas se há, hoje em dia, exemplos de coisas para as quais não se justifica cuspir em cima, esta é uma delas! E tem sido e vai continuar a ser, por algum tempo mais, uma das minhas musas.
Mas é óbvio que estas iniciativas não foram um mero impulso de boa vontade e altruísmo destes países. Há aqui muita vontade e necessidade, diga-se, de recuperar alguma legitimidade e soberania ao Estado-Nação. Há também a constatação de que, como diz o Dani Rodrik, a governação global ser uma tarefa de loucos e que os mercados devem estar profundamente integrados em sistemas de governação, e que, assim sendo, a infra-estrutura institucional da economia global tem de ser construída ao nível nacional também. Há ainda uma tentativa de diferenciar a qualidade de vida e o bem-estar social das sociedades "desenvolvidas" face aos padrões de vida das sociedades emergentes (normalmente apoiadas em sistemas de produção sustentados por mão-de-obra barata e desprotegida socialmente) de forma a combater a concorrência internacional que essas sociedades emergentes representam.
Inúmeras questões impulsionaram estas iniciativas. Umas melhores e outras piores, até se pode dizer, mas uma coisa é certa, este esforço trará em retorno uma mudança e um aprimoramento, no bom sentido, do discurso político e um aprofundamento da consciência cidadã sobre o funcionamento societal o que, inevitávelmente, reforçará sustentadamente a tão afamada frágil confiança entre a política e os cidadãos. E isso é vital, vital para a sã sobrevivência da democracia!
Um exemplo que pode parecer deslocado, mas que não o é, é o incentivo ao consumo de produtos nacionais, o movimento 560, por exemplo, que só ganhou força quando se foi solidificando nas consciências dos cidadãos de que o consumo é um investimento. Até há muito tempo isto era uma miragem. Mas muitas elucidações deste tipo se avizinham com estas iniciativas de tentar melhor medir a performance económica e progresso social.
À nossa!

1 Comments:

Blogger Arnaldo Icaro said...

Muito bem explicado sim senhor!
Posso dizer que já entendo os traços gerais da tua cena, embora não totalmente (não estou em família com a linguagem sociológica, como sabes).
Mas pronto. Se já estava contente e orgulhoso por ti agora ainda mais.
Força pedrito, o caminho é teu para desbravar. É tudo teu

4:41 da tarde  

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