01/10/2007

Perder o centro

Chega a casa, cansado e ferido, o guerreiro.
Entra cumprimentando os seus com afecto e com ternura enquanto vai despindo a pesada armadura.
Senta-se à mesa. Reúne-se. Alimenta-se. E partilha o seu dia sem rodeios.
Sobe em direcção ao quarto. O corpo pede-lhe. Deita-se então na cama do seu quarto cada vez mais decorado à medida da sua natureza e acede respeituosamente ao merecido pedido do seu corpo. Por fim, o descanso. Deixa-se ir pela descontracção mas acompanha-a a consciência.
De olhos fechados pensa na batalha de hoje. A primeira depois de uma grande temporada pacífica e serena. Prolífica e generosa.
Sente que faltou a confiança em si mesmo, no seu eu continuamente renovado. Assustou-se com os primeiros ataques, com a atitude dos seus inimigos. E rapidamente associou disponibilidade a vulnerabilidade. Fechou-se. O seu corpo tornou-se menos flexível e perdeu forças. Quanto mais se fechava, mais as perdia. E quando já desorientado e ferido começou a utilizar as estratégias e armas do inimigo, aí, então, elas esvaíam-se. Esvaíam-se como que envergonhadas. Só lhe restava defender-se, esgotar-se e, por fim, fugir. Vazio, sozinho.
No caminho de volta sentiu-se sujo, sentiu-se desonrado. Usar as armas do inimigo. Que erro gigante. E este motivado pela falta de confiança em si mesmo. Isto não! Isto não se poderia repetir.
O guerreiro era duro e exigente nas suas auto-análises mas também sabia como abraçar-se. Procurava rapidamente a conciliação.
De olhos ainda fechados começa, então, a intuir a estratégia para o dia de amanhã.