28/08/2007

Caminho de regresso

No caminho de regresso, ao que eu não quero chamar casa, parei numa bomba de gasolina no meio da auto-estrada com o intuito de me alimentar prósperamente. Como aliás vinha sendo habituado, fosse por boa comida, fosse por outros géneros alimentícios de maior poder nutritivo e de maior generosidade.
A bomba estava literalmente apenhada.
Saio do carro e entro no estabelecimento que me parecia ser claramente uma má opção. No entanto a música de Sakamoto ainda ressoava em mim, o que nesse momento foi razão suficiente para eu achar que sairia dali exactamente como tinha entrado.
Fui à casa de banho e para não ser surpreeendido estava também a abarrotar. Não havia espaço para nada quanto mais para um gajo mijar em paz. Afinal de contas é algo íntimo.
Os níveis de agressividade começam a subir e a expressão facial começa a reflectir a contenção devidamente necessária a um ambiente hostil.
Saio de mãos encharcadas, não há papel.
Dirijo-me à enorme fila que prometia garantidamente um insultuoso pagamento.
A partir de certa altura, só as mulheres de beleza sublime, algumas crianças que claramente abraçavam a liberdade ou uns poucos idosos que reflectiam a despreocupada e afectuosa sapiência escapavam à minha fúria. Qualquer um era visto como uma ameaça à minha integridade, à minha liberdade. A tudo!... A tudo o que de bom eu vinha acumulando e integrando em mim.
Cada encontrão que recebia tinha como resposta um impacto em duplicado e cada falta de educação era severamente repreendida.
Qualquer uma daquelas pessoas podia ser a minha próxima vítima. Eu sentia-me um psicopata! Um selvagem! Mas um selvagem sem terra, sem espaço, sem liberdade, sem a sua comunidade. Fazia todo o sentido ser canibal. Pronto a sacar ao próximo a energia que ele a mim me roubava sem lhe pertencer.
Num acto de mero automatismo experimento começar a comer aquilo que tinha pago. Era uma comida feia, desprovida de vontade, de carinho. O estômago estava sensatamente selado e a minha mente tinha o cuidado de fazer com que a imagem, paladar e sabor daquela comida me dessem náuseas. Foi simpático da parte deles.
Decido, finalmente, abandonar aquele espaço.
Saí e segui viagem tentando manter firme a fé no Sakamoto...