06/09/2006

Um filho e uma mãe

-Mãe, preciso de falar contigo...
-Então filho, conta!
-Oh mãe, eu queria ter estilo, vestir-me ousadamente, falar abertamente e, inconformados, escandalizados, desconcertados e, mais que tudo, invejosos, juntavam-se para de alguma forma acalmar-me de alguma maneira. Eu queria dar nas vistas, criar boa impressão ou apenas seduzir e isso alimentava expectativas e criava uma imagem de mim mesmo que eu achava que tinha que permanentemente fundamentar e sustentar. E por isso acanhava-me... Eu queria dançar livre como os índios na televisão ou como uma criança que acompanhada dança como se tivesse sozinha ou como alguém que é tudo porque escolheu ser ele próprio e as pessoas sentiam-se perturbadas e olhavam-me com desdém.Mãe eu queria pertencer a uma associação de estudantes, instaurar um movimento social, criar uma banda mas eram tantas as dificuldades que vislumbrava. Eu queria ser amado por aquela que amava e com a qual sentia, aquilo que se conta, como que uma alma gémea e ela não veio ao meu encontro.
Oh mãe, eu queria tanto, tanto, tanto e tão pouco recebi! Mãe achas que estou perdido, que sou um falhado?
A mãe esboça um sorriso terno e sereno.
-Hum... Não filho, acho que não.
O que se passa é o seguinte: quando de manhã vais ao café como pode o empregado saber o que desejas sem tu o pedires? Quando tens medo e desejas não o ter como é que tal pode acontecer se não o enfrentas? Se sonhas em realizar algo, seja um feito ou uma "casa" como esperas vislumbrá-los se, de facto, não os realizas, não os constróis? Como pretendes ser conhecido se não te dás a conhecer? Como pretendes ser acarinhado se não te dobras perante o carinho? Como queres ser amado se não ousas amar e se não permites ser amado?
Hã?... Há uma questão que talvez possa fundamentar o que sentes: o mundo não foi feito para nós. E acho que é de facto assim!
Mas há outra!... E essa é que é linda. É que talvez nós tenhamos sido feitos para o mundo...