05/10/2006

Mais Agostinho da Silva

"(...) Um aspecto de Cristo extremamente importante é o aspecto da caridade, que para nós, por uso que as senhoras piedosas têm feito da palavra, tomou um significado muito diferente daquele que a palavra tem. Ter caridade para com uma pessoa não significa, como em geral pensam as pessoas, ajudá-la a viver com aquilo que nos sobra a nós. Caridade significa ver no outro a graça, charis, que está oculta pela sua miséria, pela sua falta de educação, pela sua deformidade física mesmo. O homem caridoso com o aleijado é aquele que vê nele a graça que podia tê-lo feito um magnífico atleta, se a sua sorte ou se as suas condições de vida não o tivessem levado a ser apenas um fragmento de gente. E o homem que vê no miserável, no desgraçado que pede esmola ou naquele que leva uma vida miserável, a charis interior, a graça com que ele nasceu e que perdeu vivendo - isso é que é caridade.
(...) Não, não há. Não há e é uma coisa curiosa essa que lembrou, porque a Eucaristia que tem a primeira parte da palvra eu que significa bem, é graça plena, é a possibilidade de encontrar plenamente a beleza que os outros são. Quando Cristo diz "comei e bebei de mim", ele diz: porque sois dignos disso. E dizer a uma pessoa que ela é digna, quer dizer, aquele ser divino que era Cristo dizer a alguém que era digno de o comer e bebre, era reconhecer no outro um processo de divindade interior, uma graça plena - eu charis, a graça inteira, a graça plena. De maneira que a Eucaristia é um dom, é uma esmola de Cristo como ela deve ser dada. Então para o homem a quem damos a esmola, aquela que podemos dar, plena, é aquilo que em nós há de centelha divina, não o dinheirito que fomos receber ao banco do nosso emprego, ou a comida que sobrou. É aquilo que temos de melhor, aquilo a que chamamos a nossa cebtelha divina que devemos dar. Isto é, cada um de nós devia dar ao outro a sua Eucaristia, a sua graça plena, em homenagem à plena graça que está no outro."

Outro excerto do mesmo livro, do mesmo autor...